Era pra ser um poema lírico
desses que a gente namora diariamente
em cada minuto solenemente
dorme e acorda remoendo
e de tanto encenar, vira físico.
Podia ter sido um poema de amor
e se não desvendasse o mistério;
seria um soneto sedutor
por ocupar ao menos um hemisfério.
Morreu de tédio e sem alquimia
o que na pele não exalou certeza,
não abriu portas para a utopia,
não se mostrou com firmeza;
minguou sem pódio, sem primazia.
Era pra ser um poema perfeito
se não tivesse morrido de véspera
no sono revirado do leito.
Se tivesse se permitido a espera
do compasso afinado
seria o poema mais refinado.
Um comentário:
Há poemas sim, que caem no vácuo, Angélica, mas este não. Aliás, achei refinadíssimo.
beijo, boa semana!
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