Meu diário de bordo

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Aventureiras



Passeia por cá sua alma arisca,
Tudo cheira, rodeia e cisca.
Por onde se arrisca essa alma aventureira?
Que me surpreende sem pistas,
Percorre-me em cada palmo,
Reconhece de pronto o alvo!

Entra por cá, sua alma fugidia,
Quando tudo em volta silencia,
Se abeira da minha, que espreita sorrateira;
Vem bailando sua alma trigueira,
Encontrar-se com a minha namoradeira.

Soltas nesse mundo sem fundo,
Nossas almas sem eira nem beira,
Se arriscam forasteiras, 
Num gozo profundo.
Até que se esgote a vontade que nos esgueira;
Seremos laços sem fronteiras 

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Vício



Quando tu queimas
Seguro a respiração
Te trago pra dentro do peito...

Queimas tanto cá dentro
Que preciso te soltar
Minha boca insiste
Em novamente te buscar...

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Gavetas entreabertas



Onde andará o silêncio que preciso  para organizar meus pensamentos; pobres pensamentos tão soltos e  embaralhados.
A cada minuto envelheço inexoravelmente antes de encontrar as soluções mágicas que persigo.
No meu entorno o mundo se agita e me agita, não sei o que encaixar em tanto espaço que vai se acumulando em mim pela perda dos sonhos e ilusões que vou deixando ao longo do caminho.
O que vou encontrar dentro das gavetas da minha alma? Tenho medo de abrí-las. Sei lá, talvez contenham emoções sufocadas, mofadas ou medos e temores estranhos que achei incontrolados e os trancafiei.
Tantas bugigangas guardadas em caixas que não mexo há anos; devem conter traças, cheiros nauseabundos que não sei se ainda suporto.
Não consigo definir se essa que vejo no espelho é a que sou ou a que me transformei, não me reconheço nas marcas fundas delineadas no rosto. Jovem não sou mais, porém a sede das buscas ainda pulsam fortes nas minhas entranhas.
Aliás, quem sou eu com tantas gavetas, caixas e espaços que simplesmente desconheço!

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Uma rodada de fé




Seu crer me anuncia. Minha presença é bálsamo para a carência diária de cada alma desesperada que cruza o portal da esperança e da fé.
Nem sempre dou o buscado, nem sempre o buscado é o desejado.
O inferno diário e único de cada um tem nuances parecidas; diferenciadas pela circunstâncias que acode a realidade vivenciada em momentos diversos.
Seu olhar emite pedidos, seu coração saltita esperançoso como quem busca o último gole d'água para matar uma sede que atravessa vidas sucessivas sem que consiga ser saciada.
Ao adentrar no sagrado chão; seu corpo experimenta sensações tantas que vão do êxtase ao desespero. Ao sair leva consigo o fogo da alegria , o conforto da bênção que preenche o coração prenhe de esperanças e pesado de carências que a vida impõe.
Muitos séculos são despertados em poucos minutos, sem que se possa traduzir em palavras e até mesmo que se consiga perceber.
Muitos são os rostos, muitos são os desejos, contidos em cada coração, mas a massa humana nessa hora parece uniforme visto que fé é um traço comum e borbulha dentro de cada um e faz o todo iluminado, iluminando uma espera sem culpa , sem pressa e sem medo. 

domingo, 26 de maio de 2013

Gipsy on



Energia em off
luz salpicada em cores
e as saias rodando...

Um relâmpago pisca
na voz murmurada
sob a chama tremulante

Calor dissipando dores
porque hoje a alegria
ensaiada entra em cena

Há passos tristes lá fora
cá dentro a música
aquece os corações sôfregos

Tantos rostos interrogam
perguntas que não se sabe
de quantas vidas trazem

sexta-feira, 24 de maio de 2013

As vezes me odeio




Anoto teus recados
penduro bem próximo dos meus olhos,
em cada manhã que não te acho
fixo a visão nos teus arautos,
inúmeros avisos selados
Dispersão ou relaxo?

Seguem-se semanas, meses
entre ligações e aparições,
e eu nessa prisão por capricho,
fico. Penso, leio... as vezes
me odeio por frear o  bicho
que me morde uma centena de razões

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Bicho




Tenho dentro de mim um bicho que me castiga,
Uma febre que arde e queima como urtiga.
Tenho um bicho que me rasga e sufoca,
Que me atormenta e provoca.
Por onde passeia esse bicho que me esgueira?
Na pele arranhada, na voz apertada ?
Onde me arranca gemidos esse maldito?
Que sabe o tamanho do meu grito.

Tenho cá dentro um bicho acuado,
Um bicho medonho e assustado;
Que cospe grunhidos, 
Mancha minha carne de pruridos.
Onde guardo essa fera bestificada?
Que não sabe por onde ataca.
Tenho nos pulsos esse bicho violento,
Esse cão tinhoso, medroso,
Sangrando qual hemorragia.
Essa fera acuada que me rege;
Remói palavras e pare poesias,
Porque essa doce fera atrevida,
Tem da vida, louca fobia;
Se comporta como um santo herege,
Pra continuar enrustida,
Na minha verve doída...

terça-feira, 14 de maio de 2013

retalhos




me desprendi dos laços 
e na frouxidão dos meus pedaços
comi minhas metades

para o que ficou exposto
à miséria das moscas
morreu o famigerado desgosto

nem no freezer me acho
um naco sem essência
pura diplicência
mas foi tudo no despacho

Rotina




não queria rimas
musicavam-lhe os verbetes
mas precisava lavar os tapetes
a poesia tinha mesmo que esperar

serena




teu espaço repousa
entre cantigas e afagos
no vão das coxas
no entremeio dos seios

há mais de ti nos minutos
da espera acomodada
no dedilhar de serenos

que na primavera de ilusões
dos jardins internos
nos desfiles de ocasião

exata e estimada lembrança
bole com meu juízo
e descansa na esperança

domingo, 12 de maio de 2013

Stand By




eu fazendo download
no meu coração
você em stand by
contempla
vê se acorda e zipa 
meus documentos

fiz up date de você
liberei o firewall
e você continua 
stand by
vê se acorda e executa
meus programas

Surtei!!




Socorro, surtei ! 
Entrei em greve por tempo indeterminado;
Não estou pra ninguém,
Fechei todas as portas e vou amarrar um bode.
Cansei de tanta falação
Tem recado pra mim?
Pendura por aí,
que eu leio se me der na telha;
Vou ler tarô e gibi
Comer pipoca, chocolate e ver TV
Preciso urgente emburrecer;
Surtei de vez!
Chega de badalação!
Tô com tesão em outra fantasia
Vou cair em outra folia,
Se der saudade eu volto,
Mas só de cara nova,
Reprovei nessa prova;
Tô vestibulando pra próxima!

sábado, 11 de maio de 2013




Eu só tenho sobrevivido
Sem palavrões 
Com gestos inibidos
Apertada pelas emoções
Sem graça
Sem segredo
Um pouco mofada
No meio da arruaça
Eu tenho medo
Da cilada
De ter sobrevivido
Até aqui.

timidez





seus olhos marotos
me olham sem disfarce
saltitam sobre meu corpo
deliciosamente garotos

seus olhos gulosos
me lambem a pele nua
disparam ansiosos
sem perder a pose

fecho os meus em close
guardando suspiros de lua
timidamente maliciosos
com seus beijos de rua

vadiagem




eu te amo, tu me amas
desde os olhos
por entre os lençóis
no rubro dos lábios
no afago das mãos

lágrimas? não!
alguns silêncios
brechas de tempo
beijos no vento
amor no firmamento

eu te amo, me amas
pouco, muito?
que importa?
amamos o suficiente
para varar noites
calar dias
nessa vadiagem explícita

virtude




me encara sem medo
minha porção santa dorme
quebra a tirania dessa escassez
que requebro pendores
onde jamais ousaria

a vida dança atônita
espalhando encantos nobres
e a mais pobre das mortais
digere sem agonia
o doce mel da euforia

sob o manto da virtude
mora o pecado
o desejo da inquietude
abaixo o espanto
a morte da concupiscência
viva a displicência
que pune por desuso
a indecência

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Insatisfação


Insatisfação

quão insana é a sua mente?
quão pura é sua oração?
não há resposta decente
para tamanha petição.

coleciona rios de lágrimas,
vertentes de aflição,
afluentes de lástimas
e ainda morre de tesão.

mente que se cura
e promove insatisfação;
se move sem censura
e se acha dono da razão.

minha rima empobreceu
para falar de um canastrão
que um dia posou de Romeu
para se desmanchar no chão.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Diário II


Diário II

Guarda minhas palavras, o meu diário...
como lembrança do meu sentir...do meu existir no teu meio...
Guarda cada uma das minhas emoções...cada uma das minhas lágrimas... emoldura cada um dos meus risos...seleciona cada momento que me dei em abraços...e conversas frouxas...
Lembra-te das minhas broncas...das minhas pequenas gentilezas...das minhas ausências...do meu jeito intempestivo de adentrar tuas falas...
Não te esqueças dos meus silêncios sofridos...das minhas reflexões murmurantes...
Pensa que várias vezes falei da minha crença...
da minha fé...tantas vezes me derramei em confissões...em juras...
Nunca te incomodes com o meu desconforto pelas
acusações...pelas insinuações..ou até pelos 
pensamentos mal compreendidos...acho que criei algumas resistências...
Não te esqueças da amizade que dediquei a cada
um dos meus amigos...do abraço apertado...do
beijo estalado que à cada um enviei com carinho...
Tenha a certeza das muitas conversas ao pé do ouvido...das muitas alegrias e das outras tantas tristezas que compartilhei com cada um com quem estive...
Saiba que comigo morrem os segredos a mim confiados...tenha certeza da minha lealdade...da minha fidelidade...da minha eterna cumplicidade...
Sei que sabes tanto de mim...que desse livro aberto que sou...pouco faltou para dizer...
dessas minhas conversas transparentes...dessa minha urgência de ser...fiquei como um marco...
feliz ou infelizmente deixei rastros...deixei pegadas
que vão levar tempo para serem apagadas...
Ainda assim te peço...guarda as minhas palavras...
as que dediquei só a ti...as que nunca dividi...
guarda as minhas lembranças...meus
soluços de criança...porque ninguém me verá
como me vistes...ninguém jamais terá
o que é só teu...
Não te peço que lembre da mulher...e sim da poeta de alma livre de preconceitos...cheia de defeitos...de erros e transgressões...
Lembra dessa poeta que não sabe falar de guerras...
de ódios...de bichos...de acasos...que só aprendeu
a falar do amor que lhe corre pelas veias...