Meu diário de bordo

sexta-feira, 17 de abril de 2009

slow motion
Angélica T. Almstadter
15.04.09

no ponto exato da pulsação
uma exclamação
e uma pergunta ficou no ar:
quanto vale esse tempo indeciso?
serei eu a pedra do altar
ou a pedra no caminho?

contida pela força
desacelero aos poucos;
não me acho, não me vejo
e não sinto o que me abraça
não há senão uma esperança
que bate descompensada
uma chama oscilante
que pisca e não se apaga
que não morre, nem se apruma

os dias se seguem obstinados
enquanto eu que não me habito,
assisto o tempo que me embaraça
nas horas que em mim se embaçam
na batida do carrilhão apressado

tenho pressa de viver
medo de adormecer e ver a vida se extinguir
nos meus braços vazios
sem ao menos ter vivido
a cota que me é devida,
conto os minutos dentro das horas
nas marcas da minha pele
nos fios do meu cabelo
que sem licença adoecem

desacelera coração
há muita vida dentro dessas artérias
muita horas dentro da ampulheta
infinitos trilhos nesse túnel
e muita emoção a ser embalada
por esses meus braços ansiosos

domingo, 5 de abril de 2009

Mutirão da solidão



Angélica T. Almstadter
01/04/09

uma multidão de olhares vazios
me acompanha todos os dias
são rostos sem risos
em corpos mecânicos
orbitando no vai vem diário

penso, logo existo
mas pra quem?
se os rostos que me seguem
não tem expressão,
as bocas mastigam nervosas
contra um implacável relógio

por todo lado gente, máquinas
vozerio, apitos, buzinas e mais gente
gente que não vive, não pensa
come, trabalha, anda e compra
e no tempo que lhe resta dorme
e esquece que é gente
e que por isso mesmo
acorda todo dia no mesmo dia.

A melodia dos seus pés





Angélica T. Almstadter
27-03-09

As sandálias se amoldam aos seus pés
que dançam delicados passos
No tornozelo despido
brilha uma jóia
tal qual um colo branco.

Lá vai ela pisando meus sonhos,
saltitando feliz pelas ruas
que enfeitada com pétalas de jasmins
serve de passarela dos seus caprichos.

Ela não conhece os espinhos
que tenho cravado na alma;
desafia sem embaraço
as leis da emoção
quando pisoteia no meu coração.

Dançam os balangandãs
com os pés dessa feiticeira
musicando rua adentro
seus passos mais ligeiros.