Meu diário de bordo

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Urgência amórfica


Morre em cada frase mal construída
A heterogenia poética da verve solitária,
Que dela se veste como única saída
A morrer de uma possessão imaginária.

Nos espasmos suspiram versos tortos
Onde balbuciam sem estética, sem gramática
Eternizados nas linhas de poemas amorfos,
As palavras de urgência assintomática.

Coisa pouca esparramada no grande vazio,
Adornos usuais desfilando sem memória,
Temores e grandes amores marcados a frio.

Emoções sedentas por uma linha divisória,
Que vire a página sem pedir resgate
Registradas qual óbito na minha história.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Inconfessáveis olhares







Tantos desejos nesses olhares.
Tão inconfessáveis juras
ditas no silêncio que nos envolve.
Você e eu, tão estranhos
e tão indisponíveis um para o outro
e ainda somos amantes ardorosos
nos nossos momentos únicos.


Derrapo nas palavras
você se perde nos verbos
quando o silêncio maculamos
com falas que nada preenchem.


Voltamos aos olhares íntimos,
profundos no aconchego inaudível
que conservamos em cumplicidade.
Você me convida e eu aceito
o banho de olhares como longos beijos.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Improviso


Renasci da semente morta
Com riso pálido e muito viço
Nasci de uma teimosia torta
Me deram então um choro postiço
Um frio relaxante escorrendo lento
Eu que arranhei o ventre liso
Embrulhado em cores sépias
Eu, vício de amor barulhento
Fiz da vida meu improviso!

terça-feira, 21 de julho de 2009

Quadro de Avisos


No quadro, um aviso poético
Grafado com letras manuscritas
Quadras exatas em tons melódicos
Dão colorido especial em meio aos itálicos recados.
Uma tarja preta diagonal explica;
Jaz nas linhas desse poema eclético
Intenções lúdicas, impressões escritas.

Enfeita o quadro de avisos lógicos
Um poema prosa de sentidos variados,
Nascido de um sonho anárquico,
Quase que uma liturgia complexa
Emblemada de forma convexa.
Radiante lá está o feito simbólico,
Sussurrado em tom melancólico
Palavras catadas ao vento
Atadas em algum breve momento,
Recolhidas por olhares atentos;
Dormirão em um coração discreto.

Passará como tudo passou um dia
O verso, o poema e a prosa analítica;
Atrás da tarja preta, uma saudade.
Desfilará uma ou outra alegria
Uma ou outra reflexão cítrica;
Só nunca passará de verdade
A veia e a extrema força rasgada
Na emoção da palavra ali grafada.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Ciranda de estrelas


Tudo que tu vês, são meus olhos densos
Minha boca pálida, sem teus beijos.
E tudo que eu sei é que essa louca ansiedade
Deixa meus olhos alagados, pensos.
Não há céu além dos teus desejos
Nem há distâncias entre a tua e minha saudade.

Quando a noite cair, vou buscar,
Aquela ciranda de estrelas que baila sorrindo;
Para espalhar na tua cama perfumada.
Me verás ao redor da lua colorida, no teu hangar
Saberás que; em cada dia desse tempo infindo
Presente estarei por toda a madrugada.

domingo, 5 de julho de 2009

Luto


São resíduos geográficos
Desprovidos de certeza,
E espalhados nos murais
Esses recados gritados.
Sufocaria cada um deles,
Pintaria de luto fechado
Para que ninguém visse
Tanta insanidade deflorada,
Em palavras gesticuladas
Sem nenhuma convicção.

É só um ritual apoteótico
De um desconforto anatômico
Que não passará de aventura,
Ou mais um ato tragicômico
Dessa atrapalhada ironia.
No salto surgirá uma nova mulher
Referendada como rainha
Fiel guardiã da loucura.
Insana o suficiente para reagir
E sair do palco ereta
Nem que seja em cacos
Engolir as próprias mazelas
Para em silêncio lamber suas feridas.

sábado, 4 de julho de 2009

Página virada

A mesa tem dois lugares
cada taça tem seu prazer
não há brinde nem porre
um soluço gelado pelo vinho
entala numa lágrima quente


chove estrelas na janela


Dois silêncios se confundem
entre sorrisos desconsertantes
olhares docemente tristes
nas mãos confusas se buscam


chove olhares estrelados


A noite fecha-se em copas
não há espaço para palavras
a dança dos gestos tem pressa
de fazer sua própria história


chove estrelas nos olhos

quinta-feira, 2 de julho de 2009

autofagia












o que me deste senão
o perceber de um corpo
que se arrasta em dores,
um gênio abominável,
mãos vazias e pés trôpegos?


deste-me também uma distância
monótona e incômoda
que ora se traduz em amor exponencial
ora em uma enorme culpa vivencial
o que me prostra a vagar
sem achar o prumo da razão


e não me recolhes novamente
ao ventre de ilusões
para que eu me insurja diariamente
me contorcendo ante os horrores
dessa utopia chamada vida

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Farsa


minha razão entende e aceita
explica, insiste
mas minha emoção chora
e fica magoada


a boca sufoca o choro
trava palavras
inaugura um fingimento


o coração cansado
não sabe mitigar
dores do muito viver


um sorriso plástico
desenha no rosto
o que dele se espera