Meu diário de bordo

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Ah, poesia!!

A poesia me ama incondicionalmente
Comigo se deita; me faz ninar
Mima meus sonhos tolos
Clareia o despertar do meu dia
Ela e só ela conhece meus anseios
Meu coração de atropelos
Apara cada uma das minhas lágrimas frias
Descortina sorrisos nunca antes despertados
Esse frisson inexplicável
Que tece dias de agonia
É o mesmo que cerze os retalhos da minha vida
A poesia é o ventre que acolhe meu corpo estilhaçado
Nos longos dias de algesia
Embala meus sonhos amordaçados
E é sim o mesmo anjo que move meus passos desajeitados

Solenidade

A taça de veneno a mim recomendada
Foi servida em doses inexatas
Coalhada de cacos coloridos
Em bandejas de sóbria euforia
Um fio de sarcasmo
E uma pitada de aflição
Completam a taça oferecida
Que aceitei no ato da concepção
Eu a sorvo como iguaria
Junto a tantos desgraçados
Que na mesma festa de humilhação
Ousaram comparecer ao ato da homilía

Por que eu canto?



A dor congela quando canto
A poesia é a cura da minha insanidade
Há loucos que pintam, que correm, que voam
A cada um o instrumento que lhe cabe na razão
Enquanto entôo cantos de aflição
Meu céu é azul e o cheiro de mar me inavade as narinas
É como um bálsamo mitigando as feridas
Como oração ofertada à alma
O freio da loucura instalada
Calça e veste meus dias de afobação

Antes a loucura bem acompanhada
Que a razão sufocando a alegria de ser livre
Como e bebo letras encharcadas de emoção
Para embriagar uma vida inteira
Danem-se os tolos que não experimentaram a aventura de viver
Não tropeçaram na euforia da insanidade
Pobres bastardos, deserdados da beleza
Não aprenderam ter o passe livre no sal dessa terra de provação