Meu diário de bordo

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Poesia incidental

Esse silêncio suspeito
que invade minha porta,
vindo da sua rua,
tem cheiro de mentira,
ares de segredo...

Essa verdade de entrelinhas
dita entre dentes,
ao pé do ouvido de outrem;
parece zombar do caos
instalado durante o silêncio...

Continuo pincelando palavras
pendurando-as no varal;
hei de secar suas emoções...

e quando encontrar de novo
o som das palavras que calou;
teremos canteiros de poemas
enchendo de vida e sorrisos
as calçadas que estão
indo e vindo entre nós...

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Só para os teus olhos

















Senta-te do meu lado e olha-me de frente
Deixa o corpo manso e a alma leve
Não resista, deixa que eu te penetre pelos olhos
Há muito que preciso te dizer
Há muito que precisamos ainda dividir
Por esse tempo insuficiente
Que nos faz um ao outro tão breve
Tão longe e tão perto dos olhos
E toda ansiedade a nos envolver

Dá-me a chance de dizer de uma vez
Que na tua presença, aprendi a sorrir
Que te espero sempre, mesmo sabendo que não virás
Que conheço de cor a tua tez,
Dos teus lábios a maciez
Que sinto o teu cheiro na minha pele quando amanhece
Que sei dos teus pensamentos discretos
Do teu vagar sem direção
Deixa-me dizer que sei do que te aborrece
Que já conheço as batidas desse coração

Senta-te aqui e me abraça
Esqueça tudo por um momento
Quero sentir a paz da tua presença
O calor do teu corpo viril
Porque esse desejo não passa
Beija-me com envolvimento, com atrevimento
Faz-me única por alguns instantes
Apascenta minh'alma ansiosa
Minha sede amorosa
Sem depois e nem antes
Seja meu de corpo e alma
Por esse desejo que não se acalma
Trago na boca o teu nome guardado
Doce mel das noites de solidão
Que te aperto nos meus lábios
E mordo em confissão
Quando percorre meu corpo banhado
Os mesmos dedos que te desenham na boca
Contornam os bicos, depois de lambidos
Eis que te tenho a mim reservado
Pecado que cometo com teu aval

Olha-me somente sem dizer
Porque sei dessa trégua arisca
Desse fogo que insiste em arder
Enquanto a realidade não belisca
Beija-me com a mesma quentura
Que tem esse corpo sem censura
...Minh'alma tens bailando no teu universo
Rascunhada em cada linha em cada verso

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Desejo-te


Foto tirada pela minha filha Ju na Pinacoteca de São Paulo em 2009
















Desejo-te como o ar que respiro
no anseio de viver cada segundo,
como esse arrepio que me sobe
gelado, e se espalha na pele excitada.


Desejo-te como o conforto do abraço
que enlaça e aquece o corpo trêmulo,
como uma noite estrelada que se derrama
na cama solitária a sondar segredos.


Desejo-te agora a cobrir-me de beijos,
que só cabem na magia da tua boca,
beijos que sufocam e reanimam,
que lambem o gosto do amor e saciam.


Ah! Como eu desejo-te irreverente
sem compostura, valente...indescente;
rasgando as regras, afrontando a censura
para unicamente viver essa loucura.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Tenho Medo

Tenho medo de não ter medo,
E avançar o mundo das misérias,
Me perder na fila da fome,
E sem medo de desvendar segredos;
Ser condenada ao degredo,
Exilada na palavra,
Caminhar sobre brasas acesas,
Ser depósito de esperanças cegas;
A nadar de peito aberto, sem nunca espraiar


Tenho medo de ter medo,
E não denunciar a violência que campeia,
Pactuar com a demência que me rodeia,
Ser um verbo mudo;
Um folhetim barato, anônimo,
Sem nome e sem pseudônimo;
Me ver confundida na multidão calada;
Genuflexa e mãos atadas
Olhando para o nada.


Tenho medo da omissão,
De não ser ponto de referência,
De perder a paciência,
De me ausentar da obrigação;
Fazer pouco caso da minha razão
Me alienar da verdade,
E prostrada na ansiedade
Perder minha identidade

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

à força


sem meias palavras
sem rodeios
braços me agarram
não luto
sinto muitos joules
apertando meu corpo

sua boca me cala
uma língua abusada
me invade
e experimenta meu sabor

perco a razão
debato-me

inalo seu cheiro selvagem

finalmente
me deixo ser tragada