Meu diário de bordo

sábado, 1 de dezembro de 2012

Valsa



Pés alados fora do compasso
Na dança das horas mortas
Se verga no atraso do meu passo
Passeia nas linhas tortas

Rodopio na valsa com graça
Tropeço, engasgo no seu abraço
Você ri, não importa o que eu faça
E eu valso pelo seu braço

Pés alados para o infinito
No aconchego dessa dança
Seu amor tão aflito
Me envolve e descansa

domingo, 25 de novembro de 2012

Alucinação




Respiro a solidão que escorre pelas paredes deste quarto 
Habita essa cama enorme e fria 
Em noites de pesado sereno 
Meus olhos baços se debruçam no candeeiro 
De chamas chorosas 
E pinga em gotas quentes a lágrima silenciosa 
Murmurada entre os inconfessos soluços 
Como pequenas labaredas 
Meu olhar desalinhado se perde 
Nas esquinas desta espera 
Meus lábios ressonam 
A poesia cultivada na alma 
Jorrando como rios que correm para o mar 
Bravios, caudalosos apressados... 
No balé do meu olhar sereno 
Mora teu rosto murmurante 
Infinitamente distante.... 
Não te encontro nas dobras dessas lembranças 
Nas encostas deste abismo em que me esgueiro 
Me recolho aos átrios internos 
Cerrado pela censura vital 
Que me espreita caprichosa 
E busca o meu abraço solitário...

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Aparas




Em que parte de mim me uso?
Onde acho as pontas do fio desse casulo?
Sei onde aparo minhas arestas,
Como sei onde encontras minhas frestas.
Escolhi as bordas do inferno
Para delas observar o infinito que me cobre;
Assim, nem toda escuridão é eterna.
Onde e quando me anulo
Nas tramas trocadas desse abuso?

Toma meus jardins, adentra meus átrios,
Que me permito, em soltos fragmentos;
Comer a poeira desse redemoinho
Para permitir a paz do polimento.
Habito as entranhas de um vulcão,
Tenho gumes afiados e olhos de águia,
Deixo a superfície para os enfeites,
Para os breves aceites,
E envolvo em cadeados as portas da baia.

É nas profundezas, onde os elos se fundem,
Que os rasgos são mais doloridos e se confundem,
Que se formam os maremotos;
Onde não alcançam os olhos da carne,
Onde se purificam as origens,
No abalo das estruturas,
Permitindo grandes rupturas
No vigor de se saber varrer a alma,
Aí é que se instalam as transformações.
Não pelo prazer único de ser o que se come,
O que se veste, o que se tem;
O ser pelo existir somente não preenche.
A pluralidade de se ser único;
Está na particularidade de saber ser
Inteiro, constante e livre;
Sabido e querido, sem porém.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

aparências



dei-te asas e o infinito
mas te rastejas agarrado à miudezas.
da minha febre, inventei a vacina;
tu rapidamente, a chacina.
sobe pela minha face o rubor
injeta-me os olhos de melancolia.

coleciono pilhas de indiretas
chiadeiras em furor;
mas me guardo sem restrições
nesse jogo que assusta
entre portas e passagens secretas
de aparentes petições
de desejos sem pudor
nessa sede que frustra e susta
todas e quaisquer aferições.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Reciclando sempre


 Latinhas de Neston recicladas para outros usos

Transformei essa pet em suporte de papel higiênico para uso fora do toillete

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O tempo em mim





Tenho olheiras das preocupações, das noites mal dormidas, rugas de tristezas, flacidez das ansiedades.
Coleciono fios embranquecidos que marcam  as lutas que venci e as que não consegui ainda.
Os passos cadenciaram não pelo cansaço; pela falta de pressa, pelo gosto de aproveitar cada minuto como se fosse o último.
Meu olhar perdeu o brilho da novidade e ganhou contornos de sobriedade, da sabedoria, da aceitação de ser.
A boca não grita com o entusiasmo de antes, mas sabe a hora certa de falar e calar; porque o coração  em equilíbrio não a exulta a descompassos exagerados, basta o murmurar com delicadeza para ser compreendida ou o silêncio revelador.
Tenho a idade exata de estar onde estou, de ser quem eu sou, de aprender de novo e sempre.
Tenho nas mãos o perfume de uma vida inteira para tocar nas palavras.
Posso gastar o tempo, que me resta, apreciando a vida pela janela, lambendo velhas feridas ou posso renascer a cada dia e reaprender a pessoa que quero ser.
Definitivo mesmo só a morte.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Dilema




Fora da corrente sou o elo 
A semente jogada ao vento 
Sou a curva do paralelo 
A imensidão em cada momento 
Sou o inexistente 
Sou o frio fio da navalha 
Sou eu simplesmente 
Minha própria mortalha 


Na receita do destino sou passageira 
Para a pitada na mistura 
Onde sou fiel mensageira 
Das doses de amor sem censura 
Disposta como ângulo na geometria 
Traço desenhos com meu corpo 
Na mais perfeita simetria 
Em pele nua sem adorno 


Programada para ser amorosa 
Desfilo minhas palavras 
Meu vazio cor-de-rosa 
Como enfeite das lavras 
Sou também tão desconcertante 
Tão rota para o escracho 
A zombaria da hora 
No sério papel de capacho 
Como gentil senhora 


Sou o muito do nada 
O abalo da construção 
Ilha do oceano separada 
Mão dupla na contramão 
Sou o olho do furacão a fumegar 
Sou a lua uivando para sol 
Uma amante a mendigar 
Por uma estrela do arrebol

terça-feira, 10 de julho de 2012

Amadurecer





Vou tecendo as horas sem pressa
Nesse espaço duro
que desbota inexoravelmente
Reconheço em vão alguma promessa
sem esperança de futuro
morta para sempre


Engulo sóis e luas distintas
nascendo e morrendo na minha cama
cobrindo de fino pó, dourados sonhos
que redesenham na pele
o desejo de amanhecer diariamente

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Absolvição




Por que não me tombas de vez?
Se teu frio em minha espinha passeia,
Batizes minha fronte suada.
Liberte-me das garras desse corpo cansado,
Dessa voz rouca, entrecortada.

Se te assentas à minha mesa,
Nesse convívio imposto e diário,
Cercas meus olhos, cala em mim as palavras;
Enquanto vertes absinto;
Que em doses me faze tragar.
Por que não me abrevias as horas?
Por que não me dissolves a essência,
Anula esse gosto hostil;
Que trago na boca amarga, 
Nos olhos de eterna ressaca?

Por que me dás o gozo do céu
Na alma branca, bailarina, criança?
E o fogo do inferno no corpo cativo;
Submisso e covarde...
Por que não me tombas de vez
Sem aliança, sem véus, 
Sem herança
No silêncio que me amanhece,
Ou na prece que em mim anoitece?

Por que me gela os pés e as mãos,
Acende em brasas o coração,
Limitas meus passos,
Me aprisionas em esperanças miúdas?
Por que me espreitas curiosa,
Me impõe horas escuras, sizudas?
Por que me abraças no leito;
Ameaças a minha razão?

Me tombe de vez no sangue vertido,
Faças cessar o desamor e a luta;
Há de haver algum sentido,
Nessa guerra de desamor e desesperança.
Faças cessar o gemido abafado;
O choro escondido atrás do riso,
Crave de vez meus olhos, nesse horizonte sem rumo,
Abarque meus sonhos vivos e vazios,
Cesse dos meus ossos, esse imenso frio

A mulher que ama




A mulher que ama tem um rio apressado
A correr pelas veias náufragas
Lavas de um vulcão descontrolado
Se derramando sobre o corpo tépido
Só de brilhos se veste seus olhos amantes
Marejados de alegria 
Ou transbordando choros arfantes,
Lapidados brilhantes
A mulher que ama destoa 
Se doa
Ri a toa
Volita sem asas
Tem o ventre em brasas
Não segura o seio que palpita
E sob a roupa se agita
Empina
Desatina
A mulher que ama perde o chão
Tem acessos de paixão
Não tem freios no coração
De amor de alimenta
Se sustenta
Se curva às esperas
Perde a fala, só vê a realeza
A beleza do seu amor
A mulher que ama se multiplica
Se santifica
Porque no amor se encanta
E com zelo 
Para ele canta
O amor de uma mulher é jóia sem preço
Entregue e revirada
Inteira, ao certo e do avesso

quinta-feira, 14 de junho de 2012

acabaria e acabou




acabaria, a gente sabia
como porta que bate
como sopro que se vai
e deixa cinzas no cinzeiro

acabaria, a gente sabia
pela porta que entrou
como final de um livro 
alegria compartilhada que esgotou

acabaria e acabou

terça-feira, 29 de maio de 2012

Ele



Ele me traga
Ele me usa
Ele não me afaga


Ele me consome
Ele me acusa
Ele não me come


Ele me constrange
Ele me deprime
Ele não se define


Ele me desarma
Ele me apronta
Ele sempre me afronta


Não me revelo
Não me demito
Vivo pelo mito

domingo, 27 de maio de 2012

Sol e Lua




Era um dia e uma noite
De dia o silêncio
A noite se servia de barulhos
Ambos se desencontravam
como sol e lua
mas assim como o sol 
enchia de luz e paz
a noite fervia de escuridão
atropelada de sons


De dia a vida sorria
ao compasso elegante
de brilhos carinhosos
enquanto a noite 
entrava furiosa
batendo o pé
rasgando toda alegria


Um dia se casaram 
de pirraça para o mundo.
O sol entristeceu 
por causa do barulho
e a lua se enfureceu 
com o silêncio
Nunca mais a vida foi feliz.

sábado, 26 de maio de 2012

Diet



Estou comendo angústias
Digerindo desilusões tantas
E engordando
engordando...


Não há regime 
que mate essa fome
de comer 
e comer sem parar.


Estou bebendo noite e dia
mágoas amargas
amarguras borbulhantes


Todos os dias
devoro tristezas
embrulhadas em sorrisos
recheadas de calorias
delícias doces
que dessalguem as lágrimas
ou aplaquem desejos


O colesterol sobe
o ponteiro sobe
as roupas apertam
e eu comendo sem parar
minhas dores diárias

Ela voltou!!




Ontem quando o sono me pesava sobre as pálpebras ela me arrastou da cama, desdenhando do friozinho e do adiantado da hora. Queria minha companhia, minhas mãos geladas além da minha emoção; que embora estivesse embolorada, sonada e um tantinho embrutecida. 
Cedi. Afinal uma amizade de quase uma vida inteira não podia ser ignorada. Ela que sempre me foi fiel, que sempre me acalentou quando eu sozinha estava, ou em lágrimas me debulhava; estava ali, agora, me procurando, me querendo e quase que desesperadamente me desejando a companhia.
Levantei-me tropeçando nos pés pois o remedinho demorara, mas já fazia efeito. Lá fui eu de caneta e diário em punho anotar suas tão esperadas palavras. Ela falou, falou e eu anotando sem parar. Ela realmente estava com saudades; pois não mais me largou e está aqui comigo abraçada à minha mão, que já não está mais gelada. Ela acariciou a minha alma como há muito não fazia.
Estamos nos entendendo de novo, porque  acho que ela voltou para ficar.
Que se dane o mundo. Que se dane o frio, o calor, a sede, a fome; com ela nada me falta.
Quero morrer abraçada à minha inspiração; ela é a alma que me anima, a sabedoria que me guia, o alimento que me sustenta e a companhia que me faz sentir prazer em viver.

sábado, 19 de maio de 2012

Como explicar?




Como explicar essa agonia permanente
Essa busca incessante por um abraço
Essa sensação eminente 
De não ter um ombro...um laço
Onde contabilizo minhas conquistas
Em que parte dessa trilha
Perdi a estrada e as pistas
Da vida que em mim fervilha

Como justificar o gesto carente
O escrever tão denso
O comportamento quase adolescente
A mania de dizer tudo que penso
Como me desculpar por essa angústia
Essa quase monotonia
De querer sustentar a astúcia
Me escondendo atrás da melancolia

Em que hora abracei a solidão
E deixei o cansaço me tomar
Talvez tenha enterrado meu coração
Esquecido o gosto de amar
Como entender essa vontade louca
De mastigar versos convulsivamente
Apertar as palavras na boca
Soltar as emoções como louca
E me derramar tão solenemente

Como controlar essa ansiedade
Se ela me assalta noite e dia
Enche os minhas horas de saudade
Me faz sentir a cama vazia

Já não fujo dos meus desejos
Aceito-os todos placidamente
Algumas vezes amanso-os nos solfejos
Ou deságuo-os mansamente
Nas minhas linhas insinuantes

Como não versejar de forma abundante
Se já não me lembro como era antes
Só sei que trago o peito desatinado
As esperanças todas partidas
O traçado desalinhado
De tantas idas e vindas

Como explicar o que foge a razão
Se me perdi nas torrentes, mares e rios
Nos sentimentos em profusão
Caminhando entre delírios e desvarios
Como explicar esse veia que ferve
Essa fuga constante da realidade
A lucidez invadida pela verve
Como marca de personalidade

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Se chegar




Se chegar, não estranhe os sinos;
Pendurados  na varanda,
A porta levemente encostada,
Só os ventos me trazem hinos.
Não censure minha liberdade franca,
A voz rouca e arrastada,
Tenho canários aprisionados,
Grandes gaiolas enfeitadas,
Ando descalça e despida,
A me conhecer despojada.

Se chegar, dispa-se na entrada,
Traga os olhos lavados;
No sereno das madrugadas,
Traga beijos orvalhados,
Abraços amplamente espaçosos,
Suspiros generosos,
Sussurros secretos, seletos.

Se chegar quando eu adormecer,
Não acorde meus sonhos,
Adentra por eles a viver,
Reconheço-os tristonhos.
Há ainda alguns a dividir,
Claramente delicados,
É só pegar-me pelas mãos,
Pela minha face a sorrir,
E os meneios agitados;
Saberá em que desvãos
Encontrará o meu fremir

quinta-feira, 10 de maio de 2012

A melhor idade




A melhor idade não é essa estampada na face
Não é essa que se conta nos calendários
Não é essa que se conta em cada ruga adquirida
Em cada dia dessa vida vivido
A melhor idade é a que escondemos na face
Nos nossos mergulhos solitários
Na verdade ao tempo dirigida
No tempo que guarda de tudo o sentido
A melhor idade é quando estamos amando
Quando a alma se torna leve
E o espírito não impõe a razão
A melhor idade é feita de primaveras
Quando o corpo perde o comando
Quando o dia morre na noite que fica breve
Para todos os espasmos do coração
No provar de todas as quimeras
A melhor idade é essa que não tem cura
Que a gente guarda com saudade
Porque sabe que é uma loucura
Essa que atravessa na nossa realidade
Não se importa com os ponteiros
Não se reflete nos espelhos
A melhor idade nos faz inteiros
Avesso aos conselhos
Felizes e inconseqüentes
Eternos adolescentes.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

abraço calculado



abraça minhas arestas
o medo calculado
tateia meus cantos escuros
um forte desejo de romper véus
cá onde os estilhaços brilham aos cacos,
atraio chuvas, pingando nos espelhos

atravesso adagas na voz
rasgo elos, ato nós
tenho joelhos ralados pela fé
as mãos estendidas em conchas
para colher chuvas 
mas esqueço abraços no sereno
onde ainda é permitido sonhar

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Despedida




Ele virou-se e foi andando sem aceno, sem palavras, qual um dia que parte sem aviso.
Era verão, uma tarde quente, sol a pino; seus passos lentos se afastaram quase sem deixar rastros. Virava-se ali uma página de muitas histórias, quase todas acabadas só a última ficou sem final, faltou paixão para assinar os versos que eu ainda lhe compunha.
Olhei ao redor; na varanda a rede parecia desbotada, as flores abriram todas na mesma manhã, o piso gasto, brilhava. Da cozinha o cheiro do café convidava à mesa ainda posta e  pelo corredor o aroma de banho impregnava o ar.
Ele se foi como chegara; leve e sem se fazer notar. Naquele quarto onde muitas gargalhadas ecoaram, havia um silêncio absurdo contrastando com os meigos sorrisos ainda impressos, pendurados nas paredes, só os sussurros me afligiam a lembrança.
Deixei os olhos presos no espelho frio, de onde ele nunca mais saiu, atei as mãos aos lençóis ardentes de recordações só minhas.
Quem sabe o tempo dure infinitamente com esse sabor de até breve.

domingo, 29 de abril de 2012

A nona e eu



Nossa cumplicidade não passa do primeiro ato, muito diferente de Beethovem; que toca pra mim da primeira à última nota da nona sinfonia.
   Por pura ironia, o "cumplice", está impregnado na minha pele e nem de longe ele conhece o "dolce gabana" que se estende nos meus edredons; falta a linguagem além das palavras.
   Só eu conheço os alegros e andantes que retumbam no meu peito. Só eu me arrepio com os celos, que me levam para além do infinito, sonhar com a imensidão, porque sou tão surda quanto ele, mas percebo pela vibração os sons, sinto a mesma ebulição cá dentro.
   Enquanto minh'alma comunga com o universo; essa enorme senda de paixões e mergulha na necessidade de ficar prenhe, meu corpo se esconde dentro dos mais abusivos silêncios; fico gerando e maturando meus anseios. Não me basto, eu sei, mas me arrasto dentro das horas pra me fazer canção com cada nota que me arde sentida dentro do peito.
    Onde eu estava enquanto ele compunha para mim? Quiçá eu boiasse sob as estrelas, ouvindo seus dedos em toques perfeitos suplicando nas teclas do piano. Talvez eu não soubesse que cabia dentro da sinfonia, ele certamente  não sabia que eu existia.
    Nunca passamos do primeiro ato, mas ele vive em mim.
    Ele toca e me toca, tanto mais quando exerce seu fascínio sobre mim de onde mais nem eu sei onde encontrar, já que é pó e sonho misturado a realidade bruta, que se assenta na minha presença e me ouve calado os choros desatinados. É aqui, que ele se confunde entre o lúdico e a realidade, na minha mais cruel saudade...
    Uma desabalada correria acelera as minhas pulsações, me remete ao tempo que só a nós pertece, entre o sonho e veleidade. Fecho em círculos imprecisos as lembranças e me guardo pura nos acordes da nossa melodia.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Atrevas a me roubar, vai!



     Não roubas somente os meus textos, rouba-me as horas de prazer que dediquei a escrever minhas experiências. Roubas a emoção que apertava meu peito em cada palavra que eu digitei.
   Não conheces o lugar onde eu estive, os olhares que me olharam  e ainda assim, roubas de mim os flertes, os amores, os abraços e até a minhas pulsações ansiosas.
   Não estavas no meu leito, não conheces o corpo do meu amado e ainda assim falas dele, como se fosse teu. Não provaste o sabor desse beijo que é meu, mas insistes em falar dele, pelas minhas palavras.
Por que queres sentir as minhas emoções, as minhas angústias? Por que não te fechas em teu mundo e mergulha na tua intimidade para sentir as tuas próprias sensações?
   Ah! Como podes querer que eu te respeite, quando nem a ti respeitas, te embrenhando nas minhas emoções, navegando nos meus sentimentos como se fossem os teus; rabiscando sobre as minhas palavras, tomando sem pudor o que eu vivi, para ti?
   Quantas horas debruçadas sobre o teclado teci essas tramas que bailavam na minha memória, quantas horas sonhei esses sonhos que hoje dizes que são teus? Nem as lágrimas que derramei enquanto digitava com o coração apertando pelas minhas lembranças tu conheces, então como podes sair por aí desfilando as minhas dores como se fossem tuas e escritas sem nenhum um soluço? Como podes assinar as minhas vivências?
   Não roubas só os meus textos, tentas roubar a minh'alma para te aventurares por um mundo que não conheces, por desejos que não experimentastes. Não saberás o gosto dessa magia que é ter a alma livre como um pássaro. Não saberás como se realizar em sonhos o que não podes provar no dia a dia. Não terás esse mesmo sorriso que tenho agora nos lábios, porque não tens a mesma veia que ferve como a minha, ainda me enches de motivos para escorrer sem parar.
   Rouba-me se és capaz! Quanto mais tu passeias como sombra a espreita de uma vítima, mais eu sinto gana de martelar essas teclas para te denunciar!


(Na luta pela moralização da net, e defesa dos escritores e artistas)

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Deixarei contigo minh'alma




Quando a vida abandonar o meu corpo,
e num último sopro eu tombar; muitas vozes se levantarão, algumas em lamentos, outras em contentamento.
Na minha face sorridente; ficará intacta a minha expressão de insensatez.


Terei nos lábios,
um riso leve de quem se ausenta,
abandona a viuvez, 
para adentrar o átrio do bom viver.
meus olhos não estarão olhando os olhos dos que me rodeiam...
com as pálpebras levemente abaixadas, 
estarão como quem vaga em busca do infinito...
como quem sonha com o lume das estrelas...
ou simplesmente ouve uma bela sinfonia...
ainda serão os mesmos olhos sonhadores...
porém calados.


Quando a vida se extinguir dentro dessas minhas veias pulsantes...
terei adentrado inteira no mar com minhas águas doces, que passaram por esta vida sulcando a terra, deslizando sobre seixos; 
para morrer de encontro às estas águas salgadas de  lágrimas.


Deixarei rabiscado nas paredes todas por onde passar, versos e trovas em teu louvor...
nas nuvens que hão de chorar pela minha partida, deixarei seu nome gravado em flocos gigantes, para que o mundo veja quão belas foram as prosas que juntei nesse mosaico onde ele estará a  figurar.


Deixarei para ti, meus canteiros de sonhos cultivados com carinho...
deixarei lembranças soltas em muitas páginas do meu diário, abarrotado de ilusões...
inúmeras canções compostas em tantas noites de esperanças, de juras..
muitos mistérios gravados com letras douradas...
que só por ti serão decifrados.


Quando a vida, esquecer
 que eu existo, e me atirar no vale dos adormecidos...
irei semear meus sonhos em outros jardins...
passear por outras primaveras.


Deixo contigo a minh´alma; essência de mim...que não poderá seguir sem a cumplicidade da tua...

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Entre o santo e o profano




Canta serestas para mim, enquanto ainda me visto de luar, dedica-me teus versos enquanto me tens pálida sob a luz dos teus castiçais.
É tão pouco o que tenho, é tão frágil o tempo lá fora; se soubesses que em cada volta do ponteiro me afasto quase sem volta.
Em águas densas e tensas me arrasto mar adentro, sem atóis e sem ilhas; a vida em mim naufraga.
Nem que me dissecasses em versos e prosas,  entenderias minha natureza distante, exuberante, excitante, hesitante; não mergulharias nas minhas águas, porque jamais entenderias a profundidade do meu ser, nem saberias identificar ou enfrentarias a dualidade da minha essência.
Em comunhão com a natureza que se agita na minha essência, me pego por vezes aflita, entre águas e fráguas, me acomodo entre uma e outra, não sem sair de um estado para o outro transbordada ou em chamas; eis que comungo comigo, não sem antes sofrer o impacto das mudanças contínuas e tão rápidas.
Fala-me dos teus campos, dos teus sonhos, aflora em mim as tuas lembranças, apascenta as minhas ânsias para que entre águas revoltas e labaredas eu encontre um terno descans, doma meus mares, cerca as chamas que me invadem, dá-me pouso para o corpo e espírito em eterna confusão.
Não espero que cavalgues nas crinas furiosas da minha natureza que abusa, não conto com o dia que hás de te acender nas entranhas dessa fogueira que me lambe o céu porque só sei sorrir com as espumas brancas que beijam meus pés, mas hei de partir no ventre dessa imensidão que me batiza e me engole.
Me dê coisas simples e pequenas, delicadezas de gestos, miudezas de certezas; ando sem fôlego me cansei dos bramidos, me reviro em gemidos pelo arrasto da dualidade que me consome, queimo no inferno das minhas angústias e desejos e me afogo na densidade da minha profundidade.
Caminho entre o santo e o profano, me quero anjo e me quero demônio; 
me batizo nos becos da minha castidade e me puno nas impurezas da minha sinceridade.
Hei de voltar ao centro da terra; berço da minha natureza e só no repouso da terra, hei de acalmar minhas guerras.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Abraço






Cerca-me com abraços, há dentro desse laço apertado uma necessidade imensa de sentir o calor não só do corpo, mas da alma...
Cerca meu corpo com braços firmes, guarda-me em silêncio dentro desse abraço que tanto diz ao meu corpo, à minha alma atribulada...
Deixa que eu mergulhe por inteiro dentro desse abraço, sem perguntas... 
Deixa que eu cerre o olhos e só sinta o pulsar dos nossos corações, que eu sinta o  sangue correr agitado... acolhe-me, até que eu fique em paz.
Que eu perceba na pele a irrigação dos vasos e de olhos fechados perceba o riso feliz nos nossos lábios emudecidos...
Mesmo que quisesse explicar a magia e o sentimento que inunda-me nessa hora, não encontraria palavras...e para que explicar, se é só mesmo pra sentir...
O mundo para nesse abraço, nem os ponteiros importam, tudo fica dispensável diante da infinidade que se eterniza nesses poucos instantes...
Que tudo mais espere; enquanto eu permanecer contida entre esses braços, a vida fica solta, as almas também se estreitam como os corpos, em pactos silentes...navegam as emoções num mundo de segundos preciosos...
Fecha os olhos e me abraça novamente...sinta minha vida aportada no seu regaço...sinta a minha vida menina sorrindo, sabendo-se amada sem censura, sem questionamentos...sinta minha alma passarinha reconhecendo a doçura do ninho...
Fecha os olhos e deixa que eu voe nessa hora, presa nos seus braços, para ganhar o mundo com a liberdade que ninguém pode me tomar...
Fecha os olhos e sinta-me...estarei dentro do seu abraço sempre que fechar os braços ao redor do seu corpo...sei que vai me buscar dentro deles...

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Renovando os móveis

Continuando a renovar os móveis, as etapas da mesa:


Aqui com os pés já pintados e lixando a fórmica:




Aí depois de pronta ficou assim:




Todo o conjunto ( mesa e cadeiras ) pronto ficou assim:




Aprovadíssimo por todos.

quarta-feira, 21 de março de 2012

customização

Ganhei uma sandália gostosa, mas preta...aí decidi deixá-la mais alegre, e ela ficou assim depois de customizada.
Não fiz o antes, que pena, estava tão ansiosa para aprontá-la que esqueci de clicar.

pintando o sete

a casa anda precisando de reparos
                                                                            o antes
                                                                          e o depois

quinta-feira, 15 de março de 2012

Algumas vezes


                                 Foto Angélica




Algumas vezes tudo que se quer
é queimar etapas...
acordar num dia e saber 
que o rio mudou de curso...
que apesar de amanhecer novamente...
tudo será diferente...
Quando o sol chegar haverá novidades 
para se contar, 
os raios podem entrar pelas
 janelas escancaradas...não há de se ter
 portas trancadas, é possível olhar
 para os jardins e ver neles as flores intactas, 
sem o toque violento das 
mãos que as ferem...
Caminhar livre das amarras...
respirar sem travas...
sem o nó na garganta...
saber que é dia novamente 
e que ainda que ele 
seja breve, tem dentro das 
suas horas pequenas surpresas..
algumas alegrias que 
não se precisa esconder para sorrir...
Constatar que apesar de estar 
acinzentado e da chuva fina 
que insiste em não parar de cair...
dá um vontade enorme de sair pra
 caminhar ao redor da lagoa...
observar os pingos da chuva 
caindo sobre as águas mansas...
andar e andar sob essa chuvinha 
até que a roupa cole no corpo...
curtir o tempo passando sem ter 
noção das horas...pela falta do brilho
 do sol...e mesmo sem o calor 
do sol...manter o bom humor...
Poder andar sem se preocupar 
em parar para tomar fôlego...
conseguir fazer o ar entrar pelas narinas...
penetrar nos pulmões...manter o corpo ereto...calmo...os passos leves...
Poder se jogar no sofá por 
horas a fio, sem fazer nada...
simplesmente comendo pipoca 
e assistindo tv, lendo ou ouvindo 
música...sem vozerio ao redor...
sem interrupções com perguntas do tipo: 
Vai vegetar hoje?
Tomar banho de porta aberta...
cantar alto debaixo do chuveiro sem 
medo da crítica...olhar no espelho 
de cara lavada e não enxergar motivos
 para me deprimir...
Andar descalça pra receber
energia da terra... despir das roupas pra sentir a sensação de liberdade total...
sem olhares curiosos ou acusadores...
não ter pressa nos gestos...
não ter ponteiros para guiar...
Algumas vezes tudo que se quer...
é não ter regras...responsabilidades...
não se ter olhares inquisidores...
poder viver e respirar cada 
minuto sem se importar se 
haverá depois ou amanhã...
Algumas vezes tudo que se quer
é ser a gente mesmo...
sem ter que dar satisfações ou 
respostas para o mundo...

segunda-feira, 5 de março de 2012

tempo,tempo,tempo


Foto Angélica


Pareciam milênios e hoje
é como poeira fina no vão do dedos.
Parecia que pra sempre era pouco
e o hoje custa a passar.
Ontem, o hoje me parecia tão distante
e agora tropeço nas horas, segundos
que voam aos atropelos.
Lá se foram anos como ventos furiosos;
varrendo sonhos, juventude e a vida.
Fica um gosto de vi, não vivi
acabou antes de ser degustado.

domingo, 4 de março de 2012

Mulher




Não se perca da sua essência.
A doçura é e será uma arma sempre.
Mantenha os olhos vigilantes,
E o mistério nos gestos.
No salto ou na rasteira
nunca perca a elegância.
Com um riso largo ou uma gargalhada
bem colocados à cada ocasião;
mostre alegria sem vulgaridade.
Jamais seja mãe sem muito desejar;
mas se acontecer, libere o instinto.


Não se permita ser manipulada;
pelos modernismos,
pela falsa beleza,
pelo prazer fácil, 
pela perda de identidade.
Ouça seu coração, sua razão,
sinta e respire a vida em si primeiramente.


Você gera vida, você educa, 
você perpetua a espécie e 
o mundo espera o melhor de você;
se injustiçada: lute por justiça
se decepcionada: siga em frente
se magoada : perdoa
Você semeia o que espera encontrar!

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Cuida de mim


Apascenta meus olhos, Senhor,
Para eu não me perder
Durante as tempestades e a escuridão.
Toma as rédeas do meu caminhar, Senhor,
Para eu não mais temer o alvorecer,
Ou nos labirintos da solidão
Distanciar-me do teu amor.
Cuida dos meus olhos baços, Senhor,
Para que eu te reconheça os traços, 
Na minha emoção diária, 
Nessa bênção solitária
De amor que verte indefinido.
Alimenta meu coração, Senhor meu,
Para que eu não me porte como ateu, 
Para que eu não caminhe vacilante.
Que meu amor seja constante,
De ti digna todo instante.
Apaga do meu olhar a agonia,
Dos meus dias a melancolia,
Acende nos meus olhos o temor,
A fé do verdadeiro vencedor.


Apascenta meus olhos, Senhor,
Para que além da rosa,
Eu também veja os espinhos,
Mas não me fira no rancor,
Ou deixe de ser generosa 
E sempre farta de carinhos.
Cuida desses olhos feiticeiros,
Amorosos pares traiçoeiros
Que embrenhados nas palavras e poesias
Marejam imersos em fantasias.
Naufraga meus olhos reticentes
Nas certezas auto-suficientes, 
Nos desejos de obediência,
E abrevia Senhor, minha experiência.


Aceita Senhor, minha oração,
Faz novo o meu coração,
Pleno de gozo e louvor.
Contempla minha face em dor,
Nas horas que mais padeço,
Ama-me como eu não mereço.
E aos meus olhos indisciplinados;
Rega com tua sabedoria;
Para que em votos renovados
Eu me desvencilhe da apatia
E me entregue sem covardia
Aos teus desígnios abençoados.