Meu diário de bordo

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Aparas




Em que parte de mim me uso?
Onde acho as pontas do fio desse casulo?
Sei onde aparo minhas arestas,
Como sei onde encontras minhas frestas.
Escolhi as bordas do inferno
Para delas observar o infinito que me cobre;
Assim, nem toda escuridão é eterna.
Onde e quando me anulo
Nas tramas trocadas desse abuso?

Toma meus jardins, adentra meus átrios,
Que me permito, em soltos fragmentos;
Comer a poeira desse redemoinho
Para permitir a paz do polimento.
Habito as entranhas de um vulcão,
Tenho gumes afiados e olhos de águia,
Deixo a superfície para os enfeites,
Para os breves aceites,
E envolvo em cadeados as portas da baia.

É nas profundezas, onde os elos se fundem,
Que os rasgos são mais doloridos e se confundem,
Que se formam os maremotos;
Onde não alcançam os olhos da carne,
Onde se purificam as origens,
No abalo das estruturas,
Permitindo grandes rupturas
No vigor de se saber varrer a alma,
Aí é que se instalam as transformações.
Não pelo prazer único de ser o que se come,
O que se veste, o que se tem;
O ser pelo existir somente não preenche.
A pluralidade de se ser único;
Está na particularidade de saber ser
Inteiro, constante e livre;
Sabido e querido, sem porém.