Meu diário de bordo

sexta-feira, 29 de abril de 2011

As estrelas de Bilac

Angélica T. Almstadter

Ando tonta por não percebê-las,
Brilham atônitas no infinito;
Serão tuas ou minhas estrelas?
Muita vez, ao vê-las, solto um grito!

Seu brilho a ele deram sem pejo,
A nós sobrou somente o que fica;
Reflexo a azular o feio brejo,
Bilac com a magnífica!

Tu merece por certo a glória;
Tu louvaste primeiro afinal
O esplendor da merencória,

Do que a nós parece irreal,
Deus consagre a memória
De Bilac; poeta imortal!


(mais um fruto da semana Olavo Bilac do Ateneu)

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Estrelas não ouço!

Não Bilac, não ouço tuas estrelas,
não que com elas não converse.
Há muito tento ouví-las, entendê-las;
acho que minha prosa de nada serve.



Amar talvez não tenha aprendido;
não de fato, para ouvir estrelas,
diria que por certo tenho esquecido
de acarinhar a alma para merecê-las.



Ora direis ouvir estrelas! Invejo-te!
Tão distantes dos meus olhares;
não ouço ruído sequer! Rogo-te!



Dá-me um tanto de teus sentires
para que um dia; eu as ouça. Peço-te!
Caso contrário meu chorar hás de ouvir!

(fruto da Semana de Olavo Bilac no Ateneu)

terça-feira, 5 de abril de 2011

A Intrusa



       Ela chegou toda faceira, olhou para um lado para o outro e me encarou. Muito desaforo da parte dela, ficou se achando o ovo da marmita, passeando pra lá e pra cá, como se meu quarto fosse dela.
Eu observando ela e ela a mim. Ô criatura desenvolta, nem  tava aí pra mim, pôs aquelas patinhas cheias de pelinhos na minha frasqueira, ai meus creminhos; quanto atrevimento!
      Eu ia e vinha suando frio, e ela dona absoluta do pedaço. Cadê que eu conseguia assistir a alguma coisa na TV, meus olhos ficavam pregados naquela doninha xereta, que andava pra todo lado, cheia de pose. Enquanto eu não conseguia sair de dentro da toalha pra apanhar alguma roupa; ela me exibia aquelas asinhas brilhantes, eu nem chegava perto dos meus sapatinhos... e ela balançando as anteninhas, ligadíssima na minha aflição.
      Quando eu me enchia de coragem e avançava sobre ela, ela zombava da minha pouca habilidade e pra que eu não me sentisse muito deprimida ela se escondia e deixava que eu me vestisse e até dormisse algumas horas. Só que nossa guerrilha pelo quarto reiniciava toda manhã, eu de um lado refeita e pronta pra lutar pelo meu espaço, e ela soberana voando acima da minha cabeça. Covarde! Não descia à minha altura pra me encarar de frente.
Francamente eu já não estava mais suportando ela doidona com o sprays que eu dava pra ela cheirar, eu passando mal e ela zureta, mais acesa do que nunca.
     Foi num desses dias em que eu estava de TPM que resolvi montar guarda de longe, saia e deixava ela se sentir a dona do meu quarto, podia subir e descer, e eu aproveitava da minha insanidade temporária pra elaborar a minha vingança. Enquanto elazinha se deleitava nas minhas macias e cheirosas coisinhas, enquanto ela usava e abusava da minha intimidade (que ódio!) eu engendrava o meu ataque.
      E foi quando ela achou que eu havia desistido, que ela já podia casar e ter filhotinhos morando no meu quarto que eu entrei de mansinho porta adentro na pontinha dos pés, sangue frio, e suando frio ( isso ela não sabia) fingindo que estava tudo bem,e não tinha notado aquela  babaca. Disfarcei e voei de vassoura sobre ela, num ataque ordenado, um bombardeio de vassouradas, como se fosse aqueles ataques dos  homens bombas prontos pra matar e morrer! Ela bem que tentou reagir, e voar na minha direção como sempre fazia pra me intimidar, mas eu fui mais rápida que ela e não dei tempo dela armar o vôo, derrubei-a como se derruba um caça e disparei sobre ela toda a minha gana.
     A paz voltou, mesmo com tudo fora do lugar, a cama no meio do quarto, livros e cds espalhados, papéis, apostilas e sapatos sobre a cama, sentei e apreciei com satisfação o cadáver daquela intrusa barata voadora bem à minha frente, no chão.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Desapego


Um pouco a cada dia, solenemente,
Intensamente em cada hora
Morro. Com satisfação e gozo.
Delinqüente sobrevivente que sou
Antevejo a epopéia do desenlace,
Sufocada na agonia.
Alma túrgida de funestos desejos,
Abraço em desespero o caos
Que antecede o silêncio sepulcral.
 

domingo, 3 de abril de 2011

Fácil, Táctil e Fútil

Redesenhado por um desejo fácil
Entrou pelos poros descobertos,
Pretendia aquela vida frágil
De muitos sonhos encobertos

 
Amor cáustico de lavras fúteis.
Entre meus olhos tristes flertou
Provocou tantas emoções inúteis
E sem adeus, o mundo ganhou.

 
Maria-sem-vergonha sempre trazia
Nas mãos vazias de paixão,
Transpirava uma vida fria.

 
Tão logo me compreendeu;
Bocejou angústias pífias
Virou a página e se escafedeu.