Meu diário de bordo

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

São Paulo - uma cidade encantada

Desvairada quatrocentona
que se ergue majestosa
nas construções seculares
bem como se encharca
pelos túneis e avenidas;
assombrando pela beleza
e ao mesmo tempo
pela fúria da natureza.

Aconchegante metrópole
velha e ainda deslumbrante
que tem um povo trabalhador
hospitaleiro e baladeiro.
Cativa seu turista e visitante
em cada beco de cultura
em cada palmo do seu chão
coalhado de atrações.
Amedronta seus passantes
pela imensidão de concreto
que se estende a céu aberto
e ao longo de intermináveis avenidas.

Bela quase qüinqüentona
que mesmo maltratada
segue imponente
até depois de um verão de dilúvios;
basta que o sol se apresente luminoso
e seu povo  se esquece das avarias,
das perdas e das suas dores mais fundas
para se apresentarem sóbrias,
bem vestidas indo e vindo pelas ruas e trilhos.

Não há chão mais sagrado
que o que nascemos ou vivemos.
Sofremos, choramos,
mas fincado a eles como raízes
florimos todos os dias
para que o mundo veja
a beleza que ofertamos
a quem nos visita e soma forças.

Cidade cinza de coloridos tantos
Enfeita-se de luzes e sons
para agigantar prazeres
dos seus transeuntes.
Proteje seus artistas,
abre os braços para o mundo.
Sua a camisa, estufa redes,
cria e exporta moda.
Generosa metrópole que não dorme
fala muitas línguas,
dança com todas as tribos,
e se acaba no Sambródomo
em plena quarta-feira de cinzas.

Bem-amada selva multi-racial
dos senões e dos desejos tolos;
um brinde a sua elegância
pouco entendida pelos recém chegados.
Um brinde a sua alma doce e tenaz
ao seu abraço carinhoso.
Muitos versos ainda faria e nem assim
cantaria sua atuante beleza;
fecho os olhos e emano energias,
num desejo sincero de Felicidades tantas
a você e sua brava gente.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Egoísta eu?


Eu dependo de mim
porque sou de mim
pai, mãe e inteira
descendência de Eva.
Sou de mim o alvo
começo e o fim
apoteose da vida.

 
Tenho em mim
a semente benfazeja
a energia vital,
o dom sobrenatural,
o sangue da realeza.

 
Eu me contenho
e me basto
em um único cálice.
Sou anjo doce,
criação original
esculpida no ápice.

 
Onde estiver serei
primeira e única,
de mim e para mim
exalando a essência
da melhor existência.

 
Meu diário: a franqueza
sem motivos,
sem objetivos
para o augúrio
de alguma beleza.

 
Cultivo o desprezo
por ser herdeira hilária
do cenário patético
do meu imaginário. 

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Ególatra


Angélica T. Almstadter
09-01-2010
 

Olha o seu umbigo
não, não deixe que chova
os cartazes da cidade
espalham seus odores
 

Mais um dia de sol
para sua glória
a vida respira de mansinho
prostrada aos seus pés
você é a mais nova eleita
 

Seu perfume inala
todo vapor destilado
das gentes
nada é mais forte
que a sua presença
 

Apesar dos sinais
sua retina não retém
as novas informações
seus olhos passeiam vazios
pela órbita da vida
 
 

domingo, 9 de janeiro de 2011

Psiu

Estou sentindo falta de silêncio,
falta do frio eco zunindo ao meu redor
que atropela meus pensamentos
e faz com que eu grite em versos.
Cansei do vozerio, dos risos despachados,
do tropeçar em falas e cantorias.

 
Quero de volta o silêncio, a solidão
que me faz ouvir o tum tum tum do coração
que me obriga sentir a respiração.
Me envolve em suores frios de aflição.
O silêncio inquieto que faz perceber-me
ouvir-me, tocar-me
e saber que  guardado dentro de mim
represado querendo explodir
há poemas e prosas em gestação
maturados, querendo nascer;
lembrando que a vida só pulsa vigorosamente
porque aqui a poesia é fonte incessante
mesmo que não ecloda todos os dias.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A Porta

 Angélica T. Almstadter

Antes que atravesse essa porta
Saiba que perdi o senso
Depois que estrangulei minha aorta
Não me cobre consenso
Cansei de tanto juízo
Desse  comportamento adequado
De esconder meu jeito exagerado
Meu pouco siso
Não se espante com essa outra
Que se encontra deste lado
Uma muher risonha e marota
Cheirando a pecado ousado
Cuidado com essa mulher
Que tem um jeito diferente
Que se comporta feito gente
Que sabe o que quer
Respira ares de liberdade
Quando ama é atrevida
E chora de saudade


Essa mulher não foi a que deixou
Nem a que conheceu
Essa é a mulher que amadureceu
Aos poucos desabrochou
Soltou suas amarras
Tem vontade própria
Afiadas garras
Apesar de sóbria
Aprendeu seus limites
Encontrou seu universo
Em cada linha de cada verso
E não aceita mais palpites.