Meu diário de bordo

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Cuida de mim


Apascenta meus olhos, Senhor,
Para eu não me perder
Durante as tempestades e a escuridão.
Toma as rédeas do meu caminhar, Senhor,
Para eu não mais temer o alvorecer,
Ou nos labirintos da solidão
Distanciar-me do teu amor.
Cuida dos meus olhos baços, Senhor,
Para que eu te reconheça os traços, 
Na minha emoção diária, 
Nessa bênção solitária
De amor que verte indefinido.
Alimenta meu coração, Senhor meu,
Para que eu não me porte como ateu, 
Para que eu não caminhe vacilante.
Que meu amor seja constante,
De ti digna todo instante.
Apaga do meu olhar a agonia,
Dos meus dias a melancolia,
Acende nos meus olhos o temor,
A fé do verdadeiro vencedor.


Apascenta meus olhos, Senhor,
Para que além da rosa,
Eu também veja os espinhos,
Mas não me fira no rancor,
Ou deixe de ser generosa 
E sempre farta de carinhos.
Cuida desses olhos feiticeiros,
Amorosos pares traiçoeiros
Que embrenhados nas palavras e poesias
Marejam imersos em fantasias.
Naufraga meus olhos reticentes
Nas certezas auto-suficientes, 
Nos desejos de obediência,
E abrevia Senhor, minha experiência.


Aceita Senhor, minha oração,
Faz novo o meu coração,
Pleno de gozo e louvor.
Contempla minha face em dor,
Nas horas que mais padeço,
Ama-me como eu não mereço.
E aos meus olhos indisciplinados;
Rega com tua sabedoria;
Para que em votos renovados
Eu me desvencilhe da apatia
E me entregue sem covardia
Aos teus desígnios abençoados.






segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Réquiem



Minha alma se foi 
A beber de sua fonte viva 
Não mais retornou 
Meu corpo murchou 
Secaram-me os ossos 
Rios me brotam na face 


Que badalem os sinos 
O aroma das velas 
Me invadam as narinas 
O torpor da noite 
Não mais termine 


Quem me tocará 
Um réquiem 
No anoitecer da vida?

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Quando voce chegar




Quando você chegar 
Entre e tranque a porta 
Espalhe sons pelo ar 
Você chegar é o que importa 
Então, jogue as chaves fora 
Cante alto, toque o badalo do sino 
Não se importe com a hora 
Seja somente meu menino 


Traga consigo as alegrias e os instrumentos 
Não se esqueça dos quadros e aquarelas 
Vamos pintar muitos momentos 
Rascunhar novas mazelas 


Quando você chegar 
Acenda as chamas dos castiçais 
Queime as contas a pagar 
E muitos incensos florais 
Terei flores em todos os vasos 
A cama de cetim perfumada 
Para viver enfim muitos casos 
De alma e cara lavada 
Você traz as suas fantasias 
Eu me preparo com esmero 
Recheada de poesias 
E amor em exagero

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O que dirias



Dirias que choro estrelas 
No adormecer dos sóis 
E que desperto em cores 
No amanhecer das luas 
Que orvalho no frescor das manhãs 
Cintilando pelas folhas soltas 
Dirias que broto nas rochas 
E lentamente escorro para o mar 
Dirias que borbulho 
Nas taças de champagne 
E suave e lentamente te embriago 
Que cavalgo nas patas 
Dos mais velozes corcéis 
Dirias que relampeio 
Durante os temporais 
E sussurro nos ventos 
Que me multiplico 
Pelo pólem das flores 
Dirias que morro 
Em cada fim de frase 
Para renascer em cada nota 
De uma nova sinfonia 
Dirias então que vivo e morro 
Um pouco a cada dia 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Metade





Fim de tarde...e não te achei 
Não viestes com a chuva... 
Nem com os ventos que soprei 
Sobrou no banco ...a luva... 
Não aqueceu minhas mãos 
Limpei a lágrima insistente 
Que me escorreu pelos vãos 
Da minha confissão renitente 


Sobraram estilhaços de mim 
Beijos embolorados 
Boca sem carmim 
Braços abandonados 
Dessa tua ausência sem fim 
Vem apanhar os meus retalhos 
Impregnados de saudade 
São teus estes borralhos 
Tua outra metade...

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Contemplando o próprio umbigo



Cheiro das flores do campo santo 
Aroma das velas crepitantes 
Entrego-me sem culpa 
A olhar o próprio umbigo 
Choram fantasmas velhos 
Meu gozo funesto 
Não mais bailam fadas e gnomos 
Sopra gélida a morte 
Refúgio dos intrépidos covardes 
Contemplo minhas desgraças 
Em atos e palavras 
Meu choro insensato 
Sem pudor no relato 
Danem-se as misérias do mundo 
Enquanto as minhas transbordam 
São minhas sim as feridas 
Que sem escrúpulos 
Passo os dias à lamber 

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Um brinde a teimosia

Só aos trancos e barrancos
Desato os nós travados na garganta;
Conto até dez mais uma vez,
Te desbanco e me acabo;
Porque atacada nos flancos,
Refreio o que não adianta.
Sobe, desce e escapa sem timidez;
...a fala impensada. Desanco e desabo

Pranto confuso, cara inchada,
Peito apertado e cara amarrada.
Conto as horas e desisto;
Pagamos com teimosia,
A tua e a minha mancada.
Dou a mão, mas não insisto,
 Queremos trégua. Será?
Do silêncio, não desistimos;
Brindemos pois, com ironia
O que a outra face nunca verá;
O choro enquanto sorrimos.