Meu diário de bordo

sábado, 22 de maio de 2010

Meu medo e eu

O medo crítico cresce atrás do sorriso largo, parece não entender o significado da frouxidão nos lábios. Não se mostra como os dentes que brilham risonhos em alto e bom som, compostos com a gargalhada sonora.
Lá no fundo embutido entre disfarces e alegrias extemporâneas ele se esgueira pela razão tentando se justificar, mas qual...
Muitos ontens foram se somando e ali encravado no peito sem respostas misturando-se aos anseios o meu pobre medo perdeu o receio de ser ele mesmo e de se ver de frente. Reconheceu seus próprios atributos e ficou matreiro a se esconder pelo riso escrachado.
Hoje maduro e enraizado ele só faz encorpar, escondido atrás dos olhos que nem sempre o delatam e da boca mentirosa que nunca o confessa. Fiz de tudo para atirá-lo pela janela do trem, de alto de um prédio e ao contrário do que podia; ele foi mais forte, me aterrou ao chão presa nas suas invisíveis teias.
Ninguém sabe o terror de tê-lo envolto nas cobertas noite adentro, nas horas de silêncio infindo contando os passos dos ponteiros. Olho para o alto e ele me afugenta, dentro das cápsulas ele me tenta e eu confisco iguarias para entretê-lo.
Nos respeitamos, eu acho; ele não me entrega e eu o aceito como companheiro. Dessa união esquisita o que resulta é uma pessoa comedida que não se arrisca a correr riscos e um medo tolo que de tão arrogante; fia os passos da sua coadjuvante.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

secura


quantas foram as portas
que se fecharam para mim
e quantas abri na marra
quantos foram os risos que engoli
e quantas gargalhadas espalhei
perdi a conta de quanto reboco comi
escalando paredes que não venci
e o mar de palavras que verti
para não afogar sentimentos
nem entalar na garganta arranhada

agora olho ao meu redor
vejo uma mansidão
um silêncio de mim
um estio de sentimentos
uma secura de solidão
que mal me reconheço

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Cepticismo


Tão perto dos teus olhos
E tão longe do teu querer,
Como no dia em que vi a luz primeira
Nos cantos e louvores entoados com alegria.

Meus pés sangraram tantas vezes,
A garganta secou de tantas palavras
Tanto quanto pela sede delas.
Nunca me viste realmente!

Meu coração nunca se aquietou
O desejo de sabê-lo me queimava,
A certeza de senti-lo dava-me esperanças;
Só ao redor de mim te manifestavas.

Marquei hora, dia e não chegaste.
Esperei pelo teu tempo que não chegou.
Gastei o chão indo a tua procura,
Estavas para além de mim, nunca para mim.

Fechei os olhos, o coração e a porta.
Não virás, hoje eu sei.
Meu coração embruteceu de esperar
Por um amor que nunca me abraçou.