Meu diário de bordo

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Trilhas

Atrás da retina; lembranças.
Nos lábios o gosto úmido do beijo,
Ilusão desvanecida
Bem guardada.

Preciosa jóia brilha
Só para meus olhos
Sem ontem,
Tão pouco amanhã.

Os passos vão lépidos
E a estrada encurtando;
Na mochila da memória
Cochilam sonhos
Tão meus e de mais ninguém.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Finesse


Foi-se o tempo pacato da candura,
a hora do recato e inocente compostura.
Ficou um talho aberto pela castração,
cerzido de retalho, atropelo e frustração.

Salve a meretriz que vai a luta;
essa infeliz que tem fama sem ser puta!
Riam sim dessa fulana, criatura hilária
de quem não se sabe a cama, mas a tem por otária.
Viva a doce prostituta que nesse teatro vil
só conhece a labuta, e o gesto servil.

Espuma na língua infame o fel da acusação,
vociferado desde o prenome, sem consternação.
Bravos! Morre a míngua e não sem suspiros
o sorriso com íngua, que viveu entre vampiros!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Fogo Fátuo

Pela órbita revirada dos meus olhos,
Um rio de emoções desaguou silêncios
Que caídos formaram lagos tão doces
Quanto o ensaio amoroso que os revirou.
O som das palavras não passou na garganta
Lubrificada pela alegria de as sentir.

Quem se perdeu nas horas?
Fui eu ou foi você?
Quem engoliu a voz junto aos sonhos?
Eu?

Restou um caco colorido de brilho morto,
Piscando obscenamente
Sempre que a saudade bate à porta
Do meu atabalhoado coração.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Infarto


Não invada a minha veia,
Pra cessar essa sangria,
Estou enfartando de palavras,
Com estrangulamento da carótida,
Da forma mais exótica;
Por excesso de poesia!
Sente e devagar, saboreie;
Esse jorro em homilia,
Da minha adoração profética.
Sinta o gozo do conteúdo,
Em silêncio respeitoso,
Da minha forma fálica,
De usar a fonética.
Pra falar um pouco de tudo,
Vou em cortejo amoroso,
Desfiar verbos e versos,
Embolados e travados na goela,
Os meus universos;
Em dimensão paralela.

domingo, 8 de agosto de 2010

perigo

jogo o corpo fútil nas horas tolas,
já não há compromissos;
olhares omissos talvez
e uma pequena platéia cortez.

despejo sorrisos,
saltito nas palavras com a ponta dos pés
não temo mais os absurdos,
nem vigio o peso
tenho desejos precisos
humor variante como as marés,
especialmente para o falsos surdos.

guardo o rosto crivado de ansiedade
vivamente indefeso...

o corpo jaz tombado...
sinais? só dos pecados aparentes.
a pele alva inunda o ar
de almíscar do banho cuidadoso.

estranhamente calados
os olhos parados, adormeceram risonhos,
mais uma página impressa
entre paredes, entre dentes
uma conta deposta no altar;
pudicamente despida
por primícias de promessas.

sábado, 7 de agosto de 2010

Se eu morrer amanhã

Se eu morrer amanhã, preparem uma festa;
Quero minha melhor roupa, música e flores.
Não quero tristeza, eu quero mesmo é seresta
Na madrugada. Que venham meus ex-amores.


Como despedida, quero poesias no ar pairando
Declamadas sem choro, embargadas de emoção.
Quero sentir cada verbete entoado vibrando;
Para aplacar a saudade que levo no coração.


Se eu morrer amanhã, de hemorragia ou agonia;
Me botem um sorriso no rosto com batom e carmim.
Digam a todos que vivi e morri sufocada de poesia.


Contem das tantas palavras que brotavam em mim
Dêem-me sonetos, crônicas e uma infinidade de prosas,
Dêem-me descanso nas muitas rosas que terei enfim.

domingo, 1 de agosto de 2010

Quadro de avisos

No quadro, um aviso poético
Grafado com letras manuscritas
Quadras exatas em tons melódicos
Dão colorido especial em meio aos itálicos recados.
Uma tarja preta diagonal explica;
Jaz nas linhas desse poema eclético
Intenções lúdicas, impressões escritas.

Enfeita o quadro de avisos lógicos
Um poema prosa de sentidos variados,
Nascido de um sonho anárquico,
Quase que uma liturgia complexa
Emblemada de forma convexa.
Radiante lá está o feito simbólico,
Sussurrado em tom melancólico
Palavras catadas ao vento
Atadas em algum breve momento,
Recolhidas por olhares atentos;
Dormirão em um coração discreto.

Passará como tudo passou um dia
O verso, o poema e a prosa analítica;
Atrás da tarja preta, uma saudade.
Desfilará uma ou outra alegria
Uma ou outra reflexão cítrica;
Só nunca passará de verdade
A veia e a extrema força rasgada
Na emoção da palavra ali grafada.