Meu diário de bordo

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Turbilhão



Foto Jussara Almstadter
 
Sem direção e nenhum freio
eles entram e saem
silenciosos algumas vezes
ou rasgando emoções
arrebentando as comportas
que me banham soluçantes
 

Liberam alegrias
lembranças doces ou doídas
estimulando
inspirando
deprimindo
 

Vorazes como a fome
devoram as palavras
que regurgitam
incessantemente
... sobre o alvo papel
vai se livrando delas
uma a uma num ritual
emocionalmente caótico

domingo, 5 de dezembro de 2010

Nódoa


Angélica T. Almstadter
 

Cuspi a alma em fagulhas,
Sobre a toalha impecavelmente branca.
Com alma sangrei vinho do brinde.
Ficou incrustado no linho mesa,
Sob seu olhar atônito, a marca exata
Da minha mais nobre emoção.
Sei que acalentará com cuidado
Até juntar todos os cacos,
Do meu amor derramado.
 

Uma taça de esperança tinta,
Para bombear meu coração apagado.
Um silêncio precioso para recompor
O espelho da minh'alma estilhaçada.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Não desejo ser compreendida



Angélica T. Almstadter

Sou o sonho solitário que rompe os muros dessa prisão...
Sou o vento libertário que invade os ares em busca de comunhão...
Sou a branca nuvem desse teu céu em harmonia...
Sou a paz na tua melodia...
Sou o rio que  explode no leito inexplorado...
Sou o veio rasga a terra com sede de viver...
Sou a sede da natureza...
Sou a voz embrutecida...
O sal da terra
A voz que grita se agita, se contorce...
Sou o brado em meio ao deserto, a tempestade que sufoca, o banquete dos faraós; não sou pó, nem oásis nesse mar de sol abrasador.
Sou a linfa que circula nas entranhas da areia...
Sou espuma ruidosa que se desmancha na areia escaldada, sou minguante na maré das luas adolescentes, sou veleiro perdido na tirania das marolas...
Não sou a paz das espadas desembainhadas sou guerreira errante nessa  ampulheta de bandeiras hasteadas...
Não me pertenço, não sou rumo nessa esfera em que bailo...
Não sou brilho nessa nesga de luz que atravesso, sou a parte amputada da história que conta suas glórias, atravesso o buraco negro em vôos rasantes, me mantenho atemporal, sazonal a medida que me guardo no olho do furacão como chispa incandescente,
fagulha acesa que carece de lenha para arder...
Não desejo ser compreendida, borbulho pela borda da vida e como bebida preferida, me aceito e me derramo,
só quero ser sentida...