Meu diário de bordo

domingo, 29 de abril de 2012

A nona e eu



Nossa cumplicidade não passa do primeiro ato, muito diferente de Beethovem; que toca pra mim da primeira à última nota da nona sinfonia.
   Por pura ironia, o "cumplice", está impregnado na minha pele e nem de longe ele conhece o "dolce gabana" que se estende nos meus edredons; falta a linguagem além das palavras.
   Só eu conheço os alegros e andantes que retumbam no meu peito. Só eu me arrepio com os celos, que me levam para além do infinito, sonhar com a imensidão, porque sou tão surda quanto ele, mas percebo pela vibração os sons, sinto a mesma ebulição cá dentro.
   Enquanto minh'alma comunga com o universo; essa enorme senda de paixões e mergulha na necessidade de ficar prenhe, meu corpo se esconde dentro dos mais abusivos silêncios; fico gerando e maturando meus anseios. Não me basto, eu sei, mas me arrasto dentro das horas pra me fazer canção com cada nota que me arde sentida dentro do peito.
    Onde eu estava enquanto ele compunha para mim? Quiçá eu boiasse sob as estrelas, ouvindo seus dedos em toques perfeitos suplicando nas teclas do piano. Talvez eu não soubesse que cabia dentro da sinfonia, ele certamente  não sabia que eu existia.
    Nunca passamos do primeiro ato, mas ele vive em mim.
    Ele toca e me toca, tanto mais quando exerce seu fascínio sobre mim de onde mais nem eu sei onde encontrar, já que é pó e sonho misturado a realidade bruta, que se assenta na minha presença e me ouve calado os choros desatinados. É aqui, que ele se confunde entre o lúdico e a realidade, na minha mais cruel saudade...
    Uma desabalada correria acelera as minhas pulsações, me remete ao tempo que só a nós pertece, entre o sonho e veleidade. Fecho em círculos imprecisos as lembranças e me guardo pura nos acordes da nossa melodia.

Nenhum comentário: