Meu diário de bordo

domingo, 6 de julho de 2008

...e os selos foram abertos


...e os selos foram abertos
angélica t. almstadter
(grafite Platão da minha filha Jussara)

por onde me campeia a vida que anseio?
se dentro dessa taça me afronta sem receio,
me fere a boca que reage suculenta
ao som do peito que aos poucos se arrebenta.
por onde me pega essa vida infeliz
que arde e dói como recente cicatriz?
por onde há de entrar essa ingrata
que amacia os sons e cruelmente maltrata?
ah! mísera fonte das minhas alucinações
mentira vistosa, taça de privações!
por onde me pega sem fala
desfilando o provado com gala,
qual gosto doce de fantasioso veneno,
rabiscado para eu crer ainda terreno.

por onde me agita essa incerteza aflita,
que agoniza feito mentira bonita;
deve passear em alguma praia sem graça
rindo da certeza maluca como troféu na praça
erguido sob o aplauso pomposo.
plantado lá atrás quando nem era mentiroso
um prêmio avidamente buscado e conquistado,
hoje, amarelado, duramente castigado
não tem mais orgulho da sua valia
é fora de uso, um quase museu de anomalia.

era ela e eu um dia por pura utopia,
bebendo no mesmo gole de euforia
o banquete dos atrevidos, sem meias verdades;
e quem disse que se constrói sem iniqüidades?
nenhum alicerce se levanta para o futuro
sem mentira, sem golpes por trás do muro.
um brinde à conquista do pecado
que mata sem mandar recado!

por onde anda sem mais desvelo
a pouca vida enrolada nesse vil novelo,
que se perde numa multidão consumível
plano roto, praticamente inexeqüível
que pode ser derramado sem disputa,
numa única e frágil taça de cicuta...

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