segunda-feira, 30 de julho de 2012
aparências
dei-te asas e o infinito
mas te rastejas agarrado à miudezas.
da minha febre, inventei a vacina;
tu rapidamente, a chacina.
sobe pela minha face o rubor
injeta-me os olhos de melancolia.
coleciono pilhas de indiretas
chiadeiras em furor;
mas me guardo sem restrições
nesse jogo que assusta
entre portas e passagens secretas
de aparentes petições
de desejos sem pudor
nessa sede que frustra e susta
todas e quaisquer aferições.
sexta-feira, 20 de julho de 2012
Reciclando sempre
Latinhas de Neston recicladas para outros usos
Transformei essa pet em suporte de papel higiênico para uso fora do toillete
segunda-feira, 16 de julho de 2012
O tempo em mim
Tenho olheiras das preocupações, das noites mal dormidas, rugas de tristezas, flacidez das ansiedades.
Coleciono fios embranquecidos que marcam as lutas que venci e as que não consegui ainda.
Os passos cadenciaram não pelo cansaço; pela falta de pressa, pelo gosto de aproveitar cada minuto como se fosse o último.
Meu olhar perdeu o brilho da novidade e ganhou contornos de sobriedade, da sabedoria, da aceitação de ser.
A boca não grita com o entusiasmo de antes, mas sabe a hora certa de falar e calar; porque o coração em equilíbrio não a exulta a descompassos exagerados, basta o murmurar com delicadeza para ser compreendida ou o silêncio revelador.
Tenho a idade exata de estar onde estou, de ser quem eu sou, de aprender de novo e sempre.
Tenho nas mãos o perfume de uma vida inteira para tocar nas palavras.
Posso gastar o tempo, que me resta, apreciando a vida pela janela, lambendo velhas feridas ou posso renascer a cada dia e reaprender a pessoa que quero ser.
Definitivo mesmo só a morte.
sexta-feira, 13 de julho de 2012
Dilema
Fora da corrente sou o elo
A semente jogada ao vento
Sou a curva do paralelo
A imensidão em cada momento
Sou o inexistente
Sou o frio fio da navalha
Sou eu simplesmente
Minha própria mortalha
Na receita do destino sou passageira
Para a pitada na mistura
Onde sou fiel mensageira
Das doses de amor sem censura
Disposta como ângulo na geometria
Traço desenhos com meu corpo
Na mais perfeita simetria
Em pele nua sem adorno
Programada para ser amorosa
Desfilo minhas palavras
Meu vazio cor-de-rosa
Como enfeite das lavras
Sou também tão desconcertante
Tão rota para o escracho
A zombaria da hora
No sério papel de capacho
Como gentil senhora
Sou o muito do nada
O abalo da construção
Ilha do oceano separada
Mão dupla na contramão
Sou o olho do furacão a fumegar
Sou a lua uivando para sol
Uma amante a mendigar
Por uma estrela do arrebol
terça-feira, 10 de julho de 2012
Amadurecer
Vou tecendo as horas sem pressa
Nesse espaço duro
que desbota inexoravelmente
Reconheço em vão alguma promessa
sem esperança de futuro
morta para sempre
Engulo sóis e luas distintas
nascendo e morrendo na minha cama
cobrindo de fino pó, dourados sonhos
que redesenham na pele
o desejo de amanhecer diariamente
sexta-feira, 6 de julho de 2012
Absolvição
Por que não me tombas de vez?
Se teu frio em minha espinha passeia,
Batizes minha fronte suada.
Liberte-me das garras desse corpo cansado,
Dessa voz rouca, entrecortada.
Se te assentas à minha mesa,
Nesse convívio imposto e diário,
Cercas meus olhos, cala em mim as palavras;
Enquanto vertes absinto;
Que em doses me faze tragar.
Por que não me abrevias as horas?
Por que não me dissolves a essência,
Anula esse gosto hostil;
Que trago na boca amarga,
Nos olhos de eterna ressaca?
Por que me dás o gozo do céu
Na alma branca, bailarina, criança?
E o fogo do inferno no corpo cativo;
Submisso e covarde...
Por que não me tombas de vez
Sem aliança, sem véus,
Sem herança
No silêncio que me amanhece,
Ou na prece que em mim anoitece?
Por que me gela os pés e as mãos,
Acende em brasas o coração,
Limitas meus passos,
Me aprisionas em esperanças miúdas?
Por que me espreitas curiosa,
Me impõe horas escuras, sizudas?
Por que me abraças no leito;
Ameaças a minha razão?
Me tombe de vez no sangue vertido,
Faças cessar o desamor e a luta;
Há de haver algum sentido,
Nessa guerra de desamor e desesperança.
Faças cessar o gemido abafado;
O choro escondido atrás do riso,
Crave de vez meus olhos, nesse horizonte sem rumo,
Abarque meus sonhos vivos e vazios,
Cesse dos meus ossos, esse imenso frio
A mulher que ama
A mulher que ama tem um rio apressado
A correr pelas veias náufragas
Lavas de um vulcão descontrolado
Se derramando sobre o corpo tépido
Só de brilhos se veste seus olhos amantes
Marejados de alegria
Ou transbordando choros arfantes,
Lapidados brilhantes
A mulher que ama destoa
Se doa
Ri a toa
Volita sem asas
Tem o ventre em brasas
Não segura o seio que palpita
E sob a roupa se agita
Empina
Desatina
A mulher que ama perde o chão
Tem acessos de paixão
Não tem freios no coração
De amor de alimenta
Se sustenta
Se curva às esperas
Perde a fala, só vê a realeza
A beleza do seu amor
A mulher que ama se multiplica
Se santifica
Porque no amor se encanta
E com zelo
Para ele canta
O amor de uma mulher é jóia sem preço
Entregue e revirada
Inteira, ao certo e do avesso