Meu diário de bordo

terça-feira, 23 de novembro de 2010

olhos de ressaca

mataram meu humor
na curva de uma palavra
o riso ficou pendurado
num canto sem graça da boca

 
minha voz foi encoberta
pelo som dos silêncios
entreolhados cúmplices

 
meus olhos pensos
soluçaram de dor
e não mais sairam
do porta-retratos da sala

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Iluminura

Encastelada em sonhos difusos,
cercada de silêncios e rumores,
mora a inqueitante solidão.
Tece os dias em pequenos fusos,
bordando horas inteiras de favores;
com fios de meadas tênues
intercalando sua doce ilusão
aos traços firmes da obsequiosa razão.
 

Lá onde o encanto não morre;
refaz as aflições com igual agonia,
bebe verbos e palavras ausentes.
Para si mimoseia com ternura
a boca escancarada do escárnio.
Moraria dentro de uma epifania
não fosse a realidade uma ruptura.
Mas é noite de passar os dentes
Fechar a cortina mudar o cenário.

sábado, 13 de novembro de 2010

Out


Chic é ousar ser
é não negar o tesão,
muitos nãos
elevam a auto estima.
 
Estar on as vezes
é muito vazio;
Estar out
é uma sacada
pra grandes vôos.
 
A solidão é off
a alegria está out;
um clic e se acende.
 
Mas chic mesmo
é saber ser out
curtir a solidão
gostar muito de ser
beber o vazio
e voar com alegria.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

os mil tons e sons da solidão

acenando ao vento se afasta,
já fora do alcance dos sons,
sua obtusa lembrança gasta
na trilha matizes em mil tons


a rede rompeu laços tantos
é hora de navegar a solidão
espraiar em outros recantos,
com fúria, sua autêntica ilusão


sem traves, obstáculos ou afins
sobre os próprios passos
poder calçar solfejos de serafins


um brinde borbulha na taça
a palavra se sujeita a míngua
de qualquer língua em ameaça

terça-feira, 9 de novembro de 2010

O vôo da palavra


Não há vôos ensaiados
As asas conduzem ao desconhecido
Como se vez primeira fossem
Todos os rasantes

Não há falas ensaiadas, só
Pensadas e repensadas
Elas se espalham renitentes
As mais impensadas
Florescem sem preconceito
Até que cheirem mal

Entre um vôo e uma fala
Fico com a palavra
Descrita em muitas nuances
Porque dentro dela o vôo
Sempre recomeça a cada leitura.

sábado, 6 de novembro de 2010

Insight de Lucidez



O que importa se a porta se abriu?
Que diferença pode fazer eu andar alguns metros, ou alguns centímetros,
se cá dentro desse espaço os olhos estão cravados em mim?
Não por eu ser assunto importante, não,
mas os olhares me fitam perscrutantes de quem estuda,
controla...de quem mede cada passo e teme cada palavra.
Pois que se feche essa porta, e que o holofote não fique focado sobre mim,
penso que longe da alça de mira d'algum olhar malicioso,
o tempo há de ser mais senhor da razão, exatamente como nesse chavão.
Não vou perder o tempo com mesuras ou rotas desculpas,
tenho estrelas nos olhos, com pontas a me espetarem a íris impaciente,
tenho ombros largos o suficiente para aceitar tanto a mochila mal feita
quanto o braço pousado sem pressa, sem perguntas...
Não me assusta mais olhar e ver o que em outro tempo me apavoraria;
me incomoda não prever as palavras que soam como eco de peitos vazios
e barrigas cheias de reizinhos mal coroados.
Prefiro portas fechadas atrás de mim; é na curva do horizonte
no silêncio que sopra a excelência da natureza viva que eu encontro o abraço mais
apertado, a definição mais perfeita do amor.
É no aberto onde sem traições e sem traidores que a vida se torna real em toda sua magnitude.
Eu não espero que tantas pessoas compreendam a minha peculiaridade de viver a verdade inteira só por lealdade ao meu próprio espírito.
Minha alma, a parte carnal do meu espírito tem a sabedoria de entender e fazer ponte entre meus múltiplos corpos; o restante, já nem tem muita importância.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Adeus

Tão pouco de mim nessas cinco letras
Que fogem apressadas pela boca;
Molhados, engasgadas quase bêbadas,
De você uma quase renúncia louca.



Um adeus pacíficamente concreto
Palavras mudas, olhares discretos.
Certezas desenham um único gesto
Fica saudade de momentos secretos.



Cinco letras amargas, asfixiantes
Viram uma página risonha
Cravam desejos tão mais distantes.



Encerra numa melodia tristonha
A elegância de garbosos amantes
Numa fantasia que não mais sonha.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

sua excelência: o eleitor


angélica t. almstadter
01/11/2010

sorriso franco, esperança na mão
subiu e desceu ruas
adentrou avenida assoviando


anônimo importante
só um número ou uma digital
e o sorriso ainda franco


clicou, pegou o bilhete e saiu
rumo a favela, ao gueto
não respondeu a provocação


na noite de sua alegria
o sorriso virou gargalhada
guardou a arma para outra ocasião