Meu diário de bordo

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Entre o santo e o profano




Canta serestas para mim, enquanto ainda me visto de luar, dedica-me teus versos enquanto me tens pálida sob a luz dos teus castiçais.
É tão pouco o que tenho, é tão frágil o tempo lá fora; se soubesses que em cada volta do ponteiro me afasto quase sem volta.
Em águas densas e tensas me arrasto mar adentro, sem atóis e sem ilhas; a vida em mim naufraga.
Nem que me dissecasses em versos e prosas,  entenderias minha natureza distante, exuberante, excitante, hesitante; não mergulharias nas minhas águas, porque jamais entenderias a profundidade do meu ser, nem saberias identificar ou enfrentarias a dualidade da minha essência.
Em comunhão com a natureza que se agita na minha essência, me pego por vezes aflita, entre águas e fráguas, me acomodo entre uma e outra, não sem sair de um estado para o outro transbordada ou em chamas; eis que comungo comigo, não sem antes sofrer o impacto das mudanças contínuas e tão rápidas.
Fala-me dos teus campos, dos teus sonhos, aflora em mim as tuas lembranças, apascenta as minhas ânsias para que entre águas revoltas e labaredas eu encontre um terno descans, doma meus mares, cerca as chamas que me invadem, dá-me pouso para o corpo e espírito em eterna confusão.
Não espero que cavalgues nas crinas furiosas da minha natureza que abusa, não conto com o dia que hás de te acender nas entranhas dessa fogueira que me lambe o céu porque só sei sorrir com as espumas brancas que beijam meus pés, mas hei de partir no ventre dessa imensidão que me batiza e me engole.
Me dê coisas simples e pequenas, delicadezas de gestos, miudezas de certezas; ando sem fôlego me cansei dos bramidos, me reviro em gemidos pelo arrasto da dualidade que me consome, queimo no inferno das minhas angústias e desejos e me afogo na densidade da minha profundidade.
Caminho entre o santo e o profano, me quero anjo e me quero demônio; 
me batizo nos becos da minha castidade e me puno nas impurezas da minha sinceridade.
Hei de voltar ao centro da terra; berço da minha natureza e só no repouso da terra, hei de acalmar minhas guerras.

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