Meu diário de bordo

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Despedida




Ele virou-se e foi andando sem aceno, sem palavras, qual um dia que parte sem aviso.
Era verão, uma tarde quente, sol a pino; seus passos lentos se afastaram quase sem deixar rastros. Virava-se ali uma página de muitas histórias, quase todas acabadas só a última ficou sem final, faltou paixão para assinar os versos que eu ainda lhe compunha.
Olhei ao redor; na varanda a rede parecia desbotada, as flores abriram todas na mesma manhã, o piso gasto, brilhava. Da cozinha o cheiro do café convidava à mesa ainda posta e  pelo corredor o aroma de banho impregnava o ar.
Ele se foi como chegara; leve e sem se fazer notar. Naquele quarto onde muitas gargalhadas ecoaram, havia um silêncio absurdo contrastando com os meigos sorrisos ainda impressos, pendurados nas paredes, só os sussurros me afligiam a lembrança.
Deixei os olhos presos no espelho frio, de onde ele nunca mais saiu, atei as mãos aos lençóis ardentes de recordações só minhas.
Quem sabe o tempo dure infinitamente com esse sabor de até breve.

Nenhum comentário: