Meu diário de bordo

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Atrevas a me roubar, vai!



     Não roubas somente os meus textos, rouba-me as horas de prazer que dediquei a escrever minhas experiências. Roubas a emoção que apertava meu peito em cada palavra que eu digitei.
   Não conheces o lugar onde eu estive, os olhares que me olharam  e ainda assim, roubas de mim os flertes, os amores, os abraços e até a minhas pulsações ansiosas.
   Não estavas no meu leito, não conheces o corpo do meu amado e ainda assim falas dele, como se fosse teu. Não provaste o sabor desse beijo que é meu, mas insistes em falar dele, pelas minhas palavras.
Por que queres sentir as minhas emoções, as minhas angústias? Por que não te fechas em teu mundo e mergulha na tua intimidade para sentir as tuas próprias sensações?
   Ah! Como podes querer que eu te respeite, quando nem a ti respeitas, te embrenhando nas minhas emoções, navegando nos meus sentimentos como se fossem os teus; rabiscando sobre as minhas palavras, tomando sem pudor o que eu vivi, para ti?
   Quantas horas debruçadas sobre o teclado teci essas tramas que bailavam na minha memória, quantas horas sonhei esses sonhos que hoje dizes que são teus? Nem as lágrimas que derramei enquanto digitava com o coração apertando pelas minhas lembranças tu conheces, então como podes sair por aí desfilando as minhas dores como se fossem tuas e escritas sem nenhum um soluço? Como podes assinar as minhas vivências?
   Não roubas só os meus textos, tentas roubar a minh'alma para te aventurares por um mundo que não conheces, por desejos que não experimentastes. Não saberás o gosto dessa magia que é ter a alma livre como um pássaro. Não saberás como se realizar em sonhos o que não podes provar no dia a dia. Não terás esse mesmo sorriso que tenho agora nos lábios, porque não tens a mesma veia que ferve como a minha, ainda me enches de motivos para escorrer sem parar.
   Rouba-me se és capaz! Quanto mais tu passeias como sombra a espreita de uma vítima, mais eu sinto gana de martelar essas teclas para te denunciar!


(Na luta pela moralização da net, e defesa dos escritores e artistas)

Um comentário:

Sergio Castravelli disse...

Elegante, perfeitamente elegante,suavemente irônico mas apartado do escarnio,e tão distante da raiva que é quase zen, mesmo se tratando de um protesto contra a apropriação indébita. Deixo minha solidaria indignação com o que se faz de ignóbil no mundo virtual e minha admiração pelo brilho de seu estilo.