Meu diário de bordo

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Cânticos

( Inspirado no Cântico dos Cânticos de Salomão:)

Canto Primeiro
Elane Tomich
10 / 06 /2004


Descansaste ao meio dia
em teu suor me banhei
sob vinhas, melodia
serei, depois te amarei.
Quem ama e canta minh'alma
a maldição abençoa
e planta em meu corpo a calma,
ao meu Rei minha prece ecoa
Em meus sonhares estreitos,
em mim, germinas trigais,
guardo vinho no meus peitos,
trigueira, camuflo ais.
Não me chames pela cor
do deserto em que te estiras
mudou -me a pele, o amor,
dá-me o nome de morena.
Meu rastro é o que retiras
do retiro dos teus pés,
em esculturas na areia.
Sou teu pouso, sou serena
ou, cobra que serpenteia
no bote que reativa
a luta do amor de arena.
Saio em seguimento
das pisadas dos rebanhos.
Ressuscito em pensamento
onde em me querer, repeles.
Sangras por todos os lanhos
de paixão, da minha pele.
Nossos tetos são ciprestes
onde, o pão, amasso e sovo
magia ao meu toque prestes,
presteza, que em ti revolvo.
Suga-me dos peitos, vinho,
teu bálsamo, em ti, eu sorvo
entre lãs de ovelha e sedas
um ninho, a mim, concedas.
No amor me desconcertas
no teu poder de envoltório.
sibila a canção, serpente
do meu desejo desertas.
Solta ao vento, num repente
em sopro persecutório,
meu sonho de proteção,
lá fora a areia escolta,
moreno amor, devoção.
Meus quadris, têm própria vida,
em dança moura, cigana.
Na barriga preenchida,
da submissão que emana,
pra sempre serei coroada
como aquela que deu frutos.
Sou quem comanda , vencida.
Chama-me a mim, tua amada,
fêmea, teu falso atributo!
Deliras orgias de outeiros
quando em vinho te afundas.
Não vejo teus companheiros
quando hiberna em ciúmes.
Não me chames de amiga,
não é o que o homem quer.
Deliras ó Rei, ao cume
tuas ordens, de me siga
faz-me sentir vagabunda,
chama-me tua mulher.
*****

Canto Segundo
Angélica T. Almstadter
10-06-04


Na florada dos trigais
Vejo tua cabeleira alourada
Dançando ao vento
Espargindo o nardo
Liberto das tuas ânsias
Qual gazela encantada galopas
Pelos campos de minh´alma silente
Tu cantiga que me encanta,
Louvor que me conquista
Flor de raro perfume,
Tu, a sela de alabastro,
Que me acolhe e liberta
Pelas torres de teu alvo marfim
Tu que passeias em mim
Vem e faz morada
Nos beirais do meu avarandado
Por ti me banho nos cântaros
Dourados, nas salinas frias
Por ti me ungo ao por do sol
E me entrego sem pudores
Aos lanhos prateados
Das muitas luas solitárias
Por ti, senhor dos meus cantares
Tanjo a lira que te toca quando sibila
Cânticos entoados em dissonantes acordes
Por ti, senhor nos meus altares
De amor vivificado,
Ergo minha taça transbordante
das vinhas nobres,
Diante de tua homilia me calo,
Para me embriagar da tua
Fala maestra.
A ti, senhor dos meus sonhos
Elevados em andores do madeiro puro
Soergo minha voz esmaecida
Só tu te achas assentado
No meu trono
Só tu serás, meu rei coroado
*******


Canto Terceiro
Angélica T. Almstadter
11-06-04


Salmodiei em teu louvor senhor
dos meus cânticos...
Em tua honra ergui ao céus
taças do néctar amoroso.
Ó amado que passeias com
os pés nús pelas terras úmidas dos vinhedos;
ouço teus passos afinados como
o som suave das harpas;
cervo dos passos musicados.
Na tarde que meu corpo gotejou
mirra para perfumar teus jardins
me fiz tua eterna amada...
e tu acolhido entre minhas taças
túrgidas adormeceu mansamente;
embriagado pelos jorro de mel
derramado das minhas entranhas...
Por ti amado meu, hei de adornar
de flores meu leito...hei de
banhar-me de leite e bálsamos aromáticos,
de enfeites de prata ornar meu pescoço e ricas pulseiras pelos braços...
Por ti amado meu, hei de
transbordar os cântaros com água
de laranjeiras, fazer colunas
de incenso as pés da nossa alcova,
e de lírios mais alvos que a neve,
engalanar nosso aposento.
A ti amado meu que tem fio de
ouro nos cabelos, o mar no olhar,
vento soprado nas falas misteriosas...
deito sândalos na poesia que deposito
aos teus pés...oração do meu amor...
Flui das tuas torres de marfim
aroma dos alecrins do campo...
dos teus mármores encrustrados
de fina pedraria acendem labaredas...
És em mim fonte de inspiração...
manancial de amor vivo.
**********


Canto Quarto
Elane Tomich.
12/06/2004


Canto a ti,
pastor dos meus sonhos
enfeitarei nossa tenda ,
com o perfume de mirra .
e me acharás entre tantas
teus olhos em negara venda.
Procuro-te , não estás aqui:
andarei pelas medinas
o meu sorriso tristonho,
sem ti,
tem jeito de inocente
sou quase inócua menina
magra, na carne que esmirra.
Do perigo dos olhares
com véus coloridos, me amparas
dos homens tal qual das feras
eu, tua pomba que arrulha
ferida por tua flecha
tombada aos teus cuidados,
A alma em que enleias, cura
sou o corpo desta mulher,
tua serva que procura
teu amor , de ervas ,banhado.
Depois , na hora da ceia,
no tapete, à lua cheia
a ti farei o profano
ofertório, quase insano
do supremo sacrifício.
Imolarei tua ovelha dileta
sem lágrimas no sacrifício.
Desta morte, saio viva
Que seja a carne seleta,
banhada a vinho e oliva.
Melhor que o aroma de início,
minha carne rubra e viva
ao teu sabor, mais propícia
Entrego-me sem pudores
Rei, senhor dos meus amores.

Um comentário:

Lílian Maial disse...

Que máximo, Kika!
Eu tenho uma sério, que chamei de "Cantos dos Cantos de Amor", que vai até o Canto X, que tb foram inspirados em Salomão.
Ficaram muito bons teus poemas e os da Tomich (ando com saudade dela tb).
Beijos a ambas e Feliz Natal!