Meu diário de bordo

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Estatutos do Poeta

Ao poetas deveria ser dado somente o direito de sonhar, sem ter que se preocupar com responsabilidades, sem ter que se guiar pelos relógios dessa terra.
Os poetas tem as estrelas e os astros como parâmetros.

Aos poetas não deveria ser dado nenhuma obrigação, não para fazê-los vagabundos, mas para deixá-los livres para o mundo.
Aos poetas não se deveria impor o sacrifício de ganhar o seu sustento, o poeta precisa menos do alimento para o corpo que o linimento para a su´alma.

Aos poetas, jamais deveriam ser solicitadas prestação de contas; hora marcada, noção de dia e mês, nem se é de tarde ou madrugada.
Os poetas são seres sem amarras, sem censuras e sem travas. Não sabem viver algemados, não suportam bater o ponto. Não são felizes com asas cortadas.

Os poetas deveriam ser perdoados dos seus esquecimentos dos seus devaneios fora de estação.
Os poetas deveriam ser poupados da razão. Deveriam ter o direito de interromper o que quer que fosse, para rabiscar um pensamento, rascunhar um poema, em qualquer lugar que estivesse, em qualquer hora que a inspiração chegasse, para jamais correrem o risco de se perderem de sua alma, nos momentos de vôos que só aos dois pertence.

O silêncio é o combustível do poeta e deveria ser respeitado, tanto quanto sua tristeza, que não poderia nunca ser investigada.
O poeta gosta da solidão, convive muito bem consigo mesmo, ainda que exploda em versos, prosas e muitas palavras soltas e em tantos pensamentos, até sem cabimentos. O poeta só precisa de um ouvinte, um leitor atento, de carinho, afagos e um, colo sossegado para vaguear os seus desvarios.

O poeta é um amável insensato, que dorme quando deveria estar acordado e tem insônia quando o mundo todo dorme sossegado.
Ao poeta, se deveria perdoar a loucura, a pouca compostura, o cabelo despenteado, o olhar esgazeado; pois a insanidade do poeta é eterna, além da saudade, pois sem saudade, o poeta não hiberna.

Os poetas são sonhos personificados e só por isso deveriam ser cortejados, respeitados e poupados das mágoas desse mundo, pois já tem as suas próprias. Poupados deveriam ser das dores, pois já sangram, sensivelmente pelas dores do ser amado.
Aos poetas, a anistia da razão a euforia da emoção e o beijo delicado.

Ah! Os poetas, esses gentis amantes com suas paixões intermitentes e eternos amores; são deliciosamente ousados e infinitamente atraentes.
Que se lavrem o estatuto, que se reconheçam esse tratado.
Que se abram as portas e que seus vôos beijem, o azul da imensidão sem regras, sem rótulos e sem grilhões; enquanto ainda vivem os poetas nesse mundo de ilusões.

2 comentários:

IVANCEZAR disse...

Querida Angélica:

Quem sabe ...
Talvez no "assento" eterno
existam vagas para poetas
Com direito à redenção
plena !!!

nydia bonetti disse...

A-do-rei isso, Angélica! Como não vi antes? Bárbaro.

Ainda ontem conversando com um amigo, disse a ele como é bom saber que existem "almas" parecidas com as nossas. Este entendimento, esta sintonia que existe entre os poetas, nos faz tão bem. Porque aos olhos dos "não poetas", acho que parecemos um tanto estranhos, ou como diz meu amigo: excêntricos, e até mesmo birutas he he beijos, bom feriado.