Meu diário de bordo

domingo, 7 de junho de 2009

Canto do desencanto



quem abraça os insensatos
nessa língua morta, explicitamente lógica?
os tapa buracos que ridiculamente caminham
qual Vênus em noite de pompa?
o morno diálogo dos refinados,
que tem pés de pavão e rabo enfeitado
sem a valia dos apaixonados?
é no barro amassado do peito que agoniza,
onde o farfalhar de asas ameaça
e o chão da estupidez seca lágrimas rotas,
que brotam estrelas radiantes
sem aplausos, sem honra de ourivesaria
iluminada sem candeias por luas pálidas
atravessadas de horas amargas.
não é preciso cortinas nem púlpito,
só um fiapo de ilusão, amarelada de esperança,
para ganhar encanto na boca sem riso,
canto sem juízo vestido de criança.
é só descompasso que não cabe no peito
calor e frio sem explicação,
água que queima no leito do rio
ou riacho que cabe na palma da mão.
não conhece o caminho da felicidade
quem nunca escreveu uma jura,
quem não rasgou o ventre de agonia
ou não experimentou uma doída saudade.
não sabe mesmo o que é ternura,
quem só arrota filosofia
sem ter calçado nos dias a simplicidade.
morre sem afago o canto gago
no açoite da cruel indiferença;
quatro cantos vazios na mesma sentença,
arte sem arreios que bóia na solidão do lago,
canto de sonho marginal, divina crença
porque nasce pura, cresce bruta
sem aparato mascarado,
beija a pele, balança ao vento, cavalga sem cela
desencanto açucarado
amadurecendo feito fruta,
com o olhar penso por uma janela...


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